sábado, novembro 26, 2011

TEREZA


BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio nº 267




Não houve tempo. Alguém subira as escadas a correr e da porta anunciava sem tomar fôlego:

- Na Barroquinha o pau está comendo!

Solta-se Tereza dos braços de Almério, atira-se escada abaixo, sai em disparada pela rua. O comerciante precipita-se também, não está entendendo nada, mas não quer deixar a moça sozinha.

Na Ajuda começaram a encontrar populares, alguns exaltados a discutir. O número aumenta na Praça Castro Alves.

Da Barroquinha chega o uivo das sirenes dos carros de polícia. Tereza arranca os sapatos para correr mais depressa, sem sequer notar Almério a lhe seguir o rastro.

25

Um carro lotado de presos passa ao lado de Tereza Batista, outro o segue, dois ainda permanecem na Barroquinha completando a carga.

A resistência terminou, o conflito foi breve e violento. Das viaturas desembarcaram tiras e guardas em quantidade, fecharam a rua, invadiram as casas e baixaram a porrada. Os cassetetes trabalharam com vontade no lombo das revoltosas. Onde se viu fazer pouco das ordens da polícia? Quebrem essas burras no pau, ordenara o Delegado hélio Cotias, o gentleman da segurança pública, heróico. Uns poucos homens, clientes quase todos em plena função, tentaram impedir a violência, apanharam eles também e foram presos.

Muitas mulheres reagiram. Maria Petisco mordeu e arranhou o detective Dalmo Coca e a negra Domingas, forte como um touro, se bateu até cair rendida

Arrastadas pelos tiras, iam sendo jogadas nos carros celulares. Colheita farta, há muito tempo não eram encanadas tantas meretrizes numa só batida. A noite no xadrez vai ser de grande animação.

Ao chegar no começo da rua, Tereza avista Acácia, levada por dois secretas. Boca de praga e insultos, a velha se debate. Tereza atira-se para o grupo, Tereza Boa de Briga. De revólver em punho Peixe Cação, um dos comandantes das tropas invasoras, divisa a bailarina do Flor de Lótus, ah! Chegou a esperada hora da vingança, a cadela vai pagar caro a soberba.

Bem perto de Tereza, um guarda manda o povo dispersar, Peixe Cação aos gritos aponta-lhe a rapariga:

- Essa aí! Segura ela, não deixe escapar. Essa mesmo!
Tereza roda os sapatos, atinge com os saltos as têmporas do guarda, passa adiante, quer chegar até Acácia antes que a embarquem. Peixe Cação avança, Tereza vê-se encurralada entre ele e o policial de rosto ferido a rugir, espumando de raiva: tu me paga, puta miserável! Parte, porém, um carro de presos entre ela e o guarda. De onde surge o velho a escondê-la dos olhos de Peixe Cação? Um velho imponente, terno de linho branco, chapéu Chile e bengala de castão de ouro.

- Sai da frente, puto escroto! – berra Peixe Cação, apontando-lhe o revólver.

O ancião não faz caso, continua a fechar-lhe a passagem. O tira o empurra, não consegue movê-lo. O tempo de Almério entrar num táxi, alcançar Tereza e arrastá-la para dentro. Ela protesta:

- Estão levando Acácia.

Já levaram. Quer ir também? Está maluca?

O chofer comenta:

- Nunca vi tanta pancada. Dar em mulher, uma covardia.

Peixe Cação e o guarda buscam em vão, onde sumiu a desgraçada? Sumiu também o velho sem deixar rastro. Que velho? Um filho da puta bloqueando o caminho. Ninguém viu velho nenhum, nem antes, nem agora, nem depois.

O último carro de presos deixa a Barroquinha, a sirene abrindo alas entre curiosos na praça Castro Alves.


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