quarta-feira, novembro 30, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 270



29

Contempla a formosa, mal pode, mal pode conter nos lábios as palavras de amor. Apaixona-se de golpe, mas o caminho até ao leito é demorado. Vavá gosta de avançar lentamente, prelibando cada instante, cada palavra, cada gesto, namorando devagar. Coração tímido e romântico. No caso, porém, ao amor se misturando interesses outros, tão diversos.

Vavá não pretende demonstrar os seus sentimentos antes de ouvir Exu. Os olhos o traem, no entanto, derramam-se ardentes sobre a moça. Pai Natividade não pode tardar.

Mestre Jegue saiu num táxi para ir buscá-lo no terreiro.

- Tenha paciência, espere um pouco, não me culpe. Sei que esteve na Barroquinha, na hora do banzé. Que foi fazer para lá? Porque se arrisca?

- Cheguei tarde de mais, devia estar lá desde o começo. Não fui eu quem disse a elas que não deviam se mudar?

- Não tem juízo. Mas gosto de gente assim, esporreteada.

- Tem para mais de vinte mulheres presas, entre donas de pensão e raparigas.

- A essas horas apanhando. Está aí o que você quis.

- Era melhor baixar a cabeça e se mudar, ir viver na imundice? Me diga? A polícia não pode deixar elas presas a vida toda, oxente!

Dos corredores chega um ruído inesperado, repentino e confuso tropel. Passos, palavras, risos, várias pessoas descendo as escadas ao mesmo tempo, apressadamente.

Vavá presta atenção: que se passa? O ruído faz-se mais forte, tanto no andar de baixo como no de cima. Greta Garbo aparece na porta do quarto, excitadíssima:

- Vavá, as mulheres estão indo tudo embora, largando os homens na cama, no meio do fuco-fuco. Estão dizendo que fecharam o balaio por causa da pancadaria na Barroquinha, deu uma coisa nelas… – Fala num arranco, a voz quebrada, gestos nervosos.

Os olhos de Vavá, pesados de desconfiança, vão de Greta Garbo para Tereza, em toda a parte ele percebe falsidade e traição:

- Fique aí, já volto.

Rápido, dirige a cadeira de rodas para a sala de espera, greta garbo o acompanha.

- Que diabo é isso, para onde vão?

Algumas se detêm e explicam: fecharam o balaio, só o abrirão de novo quando as mulheres da Barroquinha retornarem às suas casas.

- Estão loucas? Voltem, vamos. Tem fregueses esperando.

Não lhe obedecem, lá se vão pelas escadas, semelham um bando de estudantes abandonando as aulas. Vavá encaminha a cadeira de rodas para o quarto. Greta Garbo pergunta, as mãos nos quadris:

- Você acha, Vavá que eu também devo fechar o balaio? Ou fico fora disso?

- Saia da minha frente!

No quarto, olhos malignos, fita Tereza, explode:

- Tudo isso saiu da sua cabeça, não foi? Foi você que inventou este carnaval – Aponta com o dedo disforme, ameaçador.

- Isso, o quê? De que carnaval está falando?

A expressão de surpresa, os olhos límpidos e francos, a face perplexa de Tereza, abalam a convicção de Vavá. Será tão falsa e hipócrita a esse ponto ou não sabe do assunto? Exaltado conta-lhe a loucura das mulheres, o balaio fechado. A face de Tereza se ilumina à proporção que ele fala. Nem o deixa terminar, está de pé:

- Venho depois saber a resposta. Desce em disparada para a rua.


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