TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 270
29
Contempla a formosa, mal pode, mal pode conter nos lábios as palavras de amor. Apaixona-se de golpe, mas o caminho até ao leito é demorado. Vavá gosta de avançar lentamente, prelibando cada instante, cada palavra, cada gesto, namorando devagar. Coração tímido e romântico. No caso, porém, ao amor se misturando interesses outros, tão diversos.
Vavá não pretende demonstrar os seus sentimentos antes de ouvir Exu. Os olhos o traem, no entanto, derramam-se ardentes sobre a moça. Pai Natividade não pode tardar.
Mestre Jegue saiu num táxi para ir buscá-lo no terreiro.
- Tenha paciência, espere um pouco, não me culpe. Sei que esteve na Barroquinha, na hora do banzé. Que foi fazer para lá? Porque se arrisca?
- Cheguei tarde de mais, devia estar lá desde o começo. Não fui eu quem disse a elas que não deviam se mudar?
- Não tem juízo. Mas gosto de gente assim, esporreteada.
- Tem para mais de vinte mulheres presas, entre donas de pensão e raparigas.
- A essas horas apanhando. Está aí o que você quis.
- Era melhor baixar a cabeça e se mudar, ir viver na imundice? Me diga? A polícia não pode deixar elas presas a vida toda, oxente!
Dos corredores chega um ruído inesperado, repentino e confuso tropel. Passos, palavras, risos, várias pessoas descendo as escadas ao mesmo tempo, apressadamente.
Vavá presta atenção: que se passa? O ruído faz-se mais forte, tanto no andar de baixo como no de cima. Greta Garbo aparece na porta do quarto, excitadíssima:
- Vavá, as mulheres estão indo tudo embora, largando os homens na cama, no meio do fuco-fuco. Estão dizendo que fecharam o balaio por causa da pancadaria na Barroquinha, deu uma coisa nelas… – Fala num arranco, a voz quebrada, gestos nervosos.
Os olhos de Vavá, pesados de desconfiança, vão de Greta Garbo para Tereza, em toda a parte ele percebe falsidade e traição:
- Fique aí, já volto.
Rápido, dirige a cadeira de rodas para a sala de espera, greta garbo o acompanha.
- Que diabo é isso, para onde vão?
Algumas se detêm e explicam: fecharam o balaio, só o abrirão de novo quando as mulheres da Barroquinha retornarem às suas casas.
- Estão loucas? Voltem, vamos. Tem fregueses esperando.
Não lhe obedecem, lá se vão pelas escadas, semelham um bando de estudantes abandonando as aulas. Vavá encaminha a cadeira de rodas para o quarto. Greta Garbo pergunta, as mãos nos quadris:
- Você acha, Vavá que eu também devo fechar o balaio? Ou fico fora disso?
- Saia da minha frente!
No quarto, olhos malignos, fita Tereza, explode:
- Tudo isso saiu da sua cabeça, não foi? Foi você que inventou este carnaval – Aponta com o dedo disforme, ameaçador.
- Isso, o quê? De que carnaval está falando?
A expressão de surpresa, os olhos límpidos e francos, a face perplexa de Tereza, abalam a convicção de Vavá. Será tão falsa e hipócrita a esse ponto ou não sabe do assunto? Exaltado conta-lhe a loucura das mulheres, o balaio fechado. A face de Tereza se ilumina à proporção que ele fala. Nem o deixa terminar, está de pé:
- Venho depois saber a resposta. Desce em disparada para a rua.
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