quarta-feira, dezembro 14, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA






Episódio Nº 282


O comissário Labão Oliveira que se encontra no Maciel tomando as providências exigidas pelas circunstâncias, afirmou a esta emissora que a normalidade será restabelecida antes do desembarque dos marinheiros. Eles não ficarão a ver navios, garantiu-nos, acrescentando: onde iriam parar os nossos foros de civilização, se tal acontecesse? Enérgicas providências serão postas em prática, a polícia tem o controle da situação. Ouviram a Rádio Grémio da Bahia.”

O bacharel Hélio Cotias arregala os olhos, tenta livrar-se de Bada. Que significa essa notícia, porque a situação no meretrício preocupa as autoridades? A música retornou, nostálgica canção napolitana.

Puxado, exigido pela amante, o delegado suplica: um momento só, minha querida. Mexe no dial em busca de mais informação. Finalmente encontra: “… não houve alteração, apenas o policiamento cresceu com a chegada da cavalaria. A greve no meretrício prossegue, nossa reportagem se encaminha para o local, a qualquer momento estaremos transmitindo directamente do Maciel, onde as forças da polícia se concentram. Mantenham seus aparelhos ligados com a Rádio Abaeté, a qualquer instante voltaremos com novas notícias.”

Irritada, Bada atira longe o aparelho de rádio. O delegado, em pânico, quer partir, o dever o chama. Agarrá-lo, tentar interessá-lo, não adianta. Hélio agora não pode, falta-lhe tempo, forças, vontade, basta olhar para ele e ver. Precisa ir para a Delegacia, pôr-se a par do que ocorre, do significado dessas notícias alarmantes, assumir o posto de comando, para tanto é o doutor delegado de Jogos e Costumes.

- Tenho de sair agora mesmo, minha querida. Me largue, por favor.

Não conhece Bada nem lhe adivinha a força do desejo:

- Frouxo!

Cai de boca em cima dele, o delegado deixa-a fazer, se esvai: puta desgraçada, furor uterino. Do chão, o rádio berra: “Estamos transmitindo directamente do Pelourinho. A polícia decidiu abrir à força as portas dos Bordéus.”

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Pelo braço de Kalil, rindo a qualquer pretexto, Anália aplaudiu as meninas e os meninos dos colégios no desfile da Primavera, recordando os tempos de Grupo Escolar, antes da fábrica de tecidos e do doutor Bráulio a largar na vida.

Almoçaram no Restaurante Porto, especialista em comida portuguesa e, para acompanhar o bacalhau à Brás, o estudante determinou vinho verde, brindaram ao amor eterno. Na saída, ele comprou e lhe ofereceu um pequeno buquê de violetas, ela o prendeu na gola do branco vestido vaporoso. Para fazê-lo, parou ao lado do busto do finado jornalista Giovanni Guimarães e, à sombra protectora do amorável cronista da vida do povo e da cidade, deixou-se beijar pelo rapaz, beijo de namorados.

Anália sentia uma tonteira boa, ria sem querer, devagar andaram pelas ruas.

A pretexto de obrigações na Faculdade, Kalil deixara o velho sozinho na loja de antiguidades, reservando o dia para a amiga. Pela primeira vez desde o começo do rabicho, há cerca de dois meses, passam juntos uma jornada completa. Em geral se reúnem pela madrugada, depois dela despedir o último freguês, e juntos ficam na cama até ao raiar da aurora – ele tem a obrigação de acordar em casa, tomar o café da manhã em companhia dos pais.


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