terça-feira, janeiro 31, 2012

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA





Episódio Nº 10




Além do mais - considerou o Doutor – os homens ricos da região, como você, têm obrigação de concorrerem para o progresso da cidade, construindo boas residências, bengalós, palacetes. Veja o palacete que Mundinho Falcão construiu na praia: e isso que ele chegou aqui a um par de anos, e, ainda por cima, é solteiro.

Afinal de que vale juntar dinheiro para viver na roça, sem conforto?

- Por mim, vou comprar uma casa é na Bahia, levar para lá a família – disse o coronel Amâncio Leal que tinha um olho vazado e um defeito no braço esquerdo, recordações do tempo das lutas.

- Isso é o que eu chamo de falta de civismo – indignou-se o Doutor – Foi na Bahia ou foi aqui que você ganhou o dinheiro? Porque empregar na Bahia o dinheiro que ganhou aqui?

- Calma Doutor, não se afobe. Ilhéus é muito bom, etc. e tal, mas vosmicê compreende, a Bahia é a capital, tem de um tudo, bom colégio para os meninos.

Não se acalmava o doutor.:

- Tem de um tudo porque vocês desembarcam aqui de mãos a abanar, aqui enchem o bandulho, entopem-se de dinheiro e depois vão gastá-lo na Bahia.

- Mas…

- Creio, compadre Amâncio – dirigia-se João Fulgêncio ao fazendeiro – que o nosso doutor tem razão. Se nós não cuidarmos de Ilhéus, quem vai cuidar?

- Não digo que não… - cedeu Amâncio. Era um homem calmo, não gostava de discussões, ninguém que o visse assim cordato imaginaria estar diante do célebre chefe de jagunços, de um dos homens que mais sangue fizera correr em Ilhéus, nas lutas pelas matas de Sequeiro Grande.

- Para mim, pessoalmente, não há terra que valha Ilhéus. Só que na Bahia tem outro conforto, bons colégios. Quem pode negar isso? Estou com os meninos mais moços no Colégio dos Jesuítas, e a patroa não quer ficar longe deles. Já morre de saudades do que está em São Paulo. O que é que posso fazer? Por mim, não saio daqui…

O Capitão interveio:

- Por colégio, não, Amâncio. Com o de Enoch funcionando é até um absurdo dizer isso. Não tem colégio melhor na Bahia… - O próprio Capitão, para ajudar e não porque necessitasse, ensinava História Universal no colégio fundado por um advogado de pequena clientela, Dr. Enoch Lira, introduzindo modernos métodos de ensino e abolindo a palmatória.

- Mas nem está equiparado.

- A estas horas já deve estar. Enoch recebeu um telegrama de Mundinho Falcão dizendo que o Ministro da Educação garantira para dentro de poucos dias…

- E então?

- Esse Mundinho Falcão é um danado…

- Que diabo vocês pensam que ele está querendo? – perguntou o coronel Manuel das Onças, mas a pergunta ficou sem resposta porque uma discussão se iniciara entre Ribeirinho, o Doutor e João Fulgêncio a propósito de métodos de ensino.

- Pode ser tudo o que vocês quiserem. Para mim, para ensinar o b-a-bá, não tem como dona Guilhermina. Mão de ferro. Filho meu é com ela que aprende a ler e a contar. Isso de ensinar sem palmatória…


( Click na imagem que dispensa apresentações. O chocolate obtem-se fermentando e torrando a semente de cacau. Originalmente, era consumida sob a forma de uma bebida quente e amarga de uso exclusivo da nobreza. Foi trazido para a Europa e popularizou-se a partir dos séculos XVII e XVIII)

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