sexta-feira, janeiro 20, 2012

GABRIELA,

CRAVO

E

CANELA





Primeira Parte

AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM BOM BRASILEIRO (NASCIDO NA SÍRIA) NA CIDADE DE ILHÉUS, EM 1925, QUANDO FLORESCIA O CACAU E IMPERAVA O PROGRESSO – COM AMORES, ASSASSINATOS, BANQUETES, PRESÈPIOS, HISTÒRIAS VARIADAS PARA TODOS OS GOSTOS, UM REMOTO PASSADO GLORIOSO DE NOBRES SOBERBOS E SALAFRÁRIOS, UM RECENTE PASSADO DE FAZENDEIROS RICOS E AFAMADOS JAGUNÇOS, COM SOLIDÃO E SUSPIROS, DESEJO, VINGANÇA, ÓDIO, COM CHUVAS E SOL E COM LUAR, LEIS INFLEXÌVEIS, MANOBRAS POLÍTICAS, O APAIXONADO CASO DA BARRA, COM PRESTIDIGITADOR, DANÇARINA, MILAGRE E OUTRAS MÁGICAS


Ou

UM BRASILEIRO DAS ARÁBIAS


CAPÍTULO PRIMEIRO

O Langor de Ofenísia

(que tão pouco aparece, mas nem por isso é menos importante)


Episódio Nº 1

Do Sol e Da Chuva Com Pequeno Milagre

Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacib, a estação das chuvas tanto se prolongara além do normal e necessário que os fazendeiros, como um bando assustado, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros, o medo nos olhos e na voz:

- Será que não vai parar?

Referiam-se às chuvas, nunca se vira tanta água descendo dos céus, dia e noite, quase sem intervalos.

- Mais uma semana e estará tudo em perigo.

- A safra inteira…

- Meu Deus!

Falavam da safra anunciando-se excepcional, a superar de longe todas as anteriores. Com os preços do cacau em constante alta, significava ainda maior riqueza, prosperidade, fartura, dinheiro a rodo.

Os filhos dos coronéis indo cursar os colégios mais caros das grandes cidades, novas residências para as famílias nas novas ruas recém-abertas, móveis de luxo mandados vir do Rio, pianos de cauda para compor as salas, as lojas sortidas multiplicando-se, o comércio crescendo, bebida correndo nos cabarés, mulheres desembarcando dos navios, o jogo campeando nos bares e nos hotéis, o progresso enfim, a tão falada civilização.

E dizer-se agora que essas chuvas demasiado copiosas, ameaçadoras, diluviais, tinham demorado a chegar, tinham-se feito esperar e rogar!

Meses antes, os coronéis levantavam os olhos para o céu límpido em busca de nuvens, de sinais de chuva próxima. Cresciam as roças de cacau estendendo-se por todo o sul da Bahia, esperavam a chuva indispensável ao desenvolvimento dos frutos acabados de nascer, substituindo as flores nos cacauais.

A procissão de São Jorge, naquele ano, tomara o aspecto de uma ansiosa promessa colectiva ao santo padroeiro da cidade.

O seu rico andor, bordado de ouro, levavam-no sobre os ombros, orgulhosos, os cidadãos mais notáveis, os maiores fazendeiros vestidos com a bata vermelha da confraria e não é pouco dizer, pois os coronéis do cacau não, primavam pela religiosidade, não frequentavam igrejas, rebeldes à missa e à confissão, deixando essas fraquezas para as fêmeas da família:

- Isso de Igreja é coisa para mulheres.

Contentavam-se com atender os pedidos de dinheiro do bispo e dos padres para obras e folguedos: o Colégio das Freiras no alto da Vitória, o Palácio Diocesano, escolas de catecismo, novenas, mês de Maria, quermesses, festas de santo António e São João.


(Click na imagem da esplanada do Vesúvio na qual, duas jovens, se fizeram fotografar junto de "Jorge Amado".)

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