domingo, janeiro 08, 2012

HOJE É DOMINGO


(Na minha cidade de Santarém)

Para nós, reformados, os Domingos já não são Domingos. O que tinham eles de mais importante que não fosse a folga no trabalho, a pausa nas relações do dia-a-dia com os colegas, o arrumar do despertador na noite de sábado?

É certo que a vida continuou, mas mais a título de acrescento e sem que nunca me tenha desaparecido esta sensação desagradável de que vivo à custa dos outros… Pagam-me exactamente o mesmo sem eu fazer nada… maravilhas do estado social, conquistas da social-democracia em vias de desaparecimento. Como diz Boaventura Sousa Santos, “o capitalismo financeiro não tolera economias com distribuição social”.

Tenho, para mim, que caímos numa terrível armadilha para a qual caminhámos ou melhor, nos conduziram, como ratinhos cegos e inconscientes e ainda hoje esperamos que à última da hora alguém nos venha salvar. Não é possível distribuir riqueza que não se produza… é o futuro que fica comprometido quando os credores disserem: basta!

Consultam-se agora os sábios, ouvem-se as iminências do costume: economistas, políticos, ex- governantes, comentadores, mas das suas doutas palavras não se retiram esperanças, ninguém tem soluções, a problemática é tão intrincada que não se vê saída que não seja “para os quintos do inferno…”. O destino é pagar... mas como e quando?

Erros, todos apontam, críticas, então, quem não as faz… as queixas não têm fim mas de que servem? Os governos estão encurralados, impotentes, incapazes, dependentes de uma entidade que tem muitos nomes a começar por “mercados”, agências de Rating, “troika”, senhora Merkel… e por todas as forças que na luz difusa dos gabinetes, no cimo dos arranha-céus, gerem os destinos da humanidade.

Boaventura Sousa Santos, que é Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra mas que passa parte do ano a ensinar nos EUA, prevê que “haverá perturbações civis nos próximos meses” e Eduardo Lourenço, o mais importante filósofo e pensador de língua portuguesa, diz que “Se as manifestações de indignados não fossem inconsequentes o mundo já estava a arder” e remata com a afirmação de que “A Europa condicionou a civilização mundial e agora não tem liderança. Está paralisada. Os problemas refluíram para ela própria”.

Longe vão os tempos em que tínhamos nas nossas casas um décimo das coisas que temos hoje mas em contrapartida as preocupações para o dia seguinte era se fazia sol ou chovia ou se aquela chata dor na coluna iria melhorar...

Quem havia de esperar que o consumismo desenfreado nos havia de conduzir a este ponto, mais de 13% de desemprego e um grupo enorme de pessoas mais idosas que não têm condições para voltarem ao mercado de trabalho?


Percebe-se, por isto, que em 2011 tenham sido vendidas por mês, em média, 564.000 embalagens de anti-depressivos e na última década, quando a taxa de desemprego era então de 4%, o aumento destes psicofármacos tenha disparado 177%.

É o fim de um ciclo e o caminho irá ser mais ou menos longo e doloroso como sempre acontece nos períodos de transição mas dele irá nascer um novo Portugal, mais selectivo, mais rigoroso, mais especializado e competitivo, com mais futuro, beneficiando de uma herança colectiva que não é só de vícios mas também de uma energia criativa e imaginativa e de um espírito de sacrifício que esteve na base da nossa sobrevivência como povo dotado de uma cultura e identidade própria.

Desta vez, não há muletas: nem o ouro do Brasil, as especiarias da Índia, o comércio de escravos, as matérias-primas das colónias a preço de saldo, não, desta vez será totalmente por mérito nosso, dos portugueses e da sua juventude muito mais culta e preparada.


Nada está escrito nas estrelas, tudo vai depender do que fizermos no dia a dia, nós e os restantes europeus com quem estamos agora embarcados nesta aventura.


(Click no Sá da Bandeira que distinto na sua pose, continua a observar)

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