segunda-feira, fevereiro 06, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio nº 15




O artigo do jovem estudante passaria em completa obscuridade se, por um desses acasos, não houvesse a revista caído em mãos de escritor moralista, conde papalino e membro da Academia Brasileira de Letras.

Admirador incondicional das virtudes do Monarca, sentiu-se o conde ofendido em sua própria honra com aquela “insinuação depravada e anarquista” a colocar o “insigne varão” na postura ridícula de suspirante, de hóspede desleal a buscar os olhares da filha virtuosa da família cuja casa ilustrava com sua visita.

Descompôs o conde em virtuoso português quinhentista, o audacioso estudante com a ríspida resposta, emprestando-lhe intenções e objectivos que Pelópidas jamais tivera. Alvoraçou-se o estudante com a ríspida resposta, era quase a consagração. Para o segundo número da revista preparou um artigo em português não menos clássico e com argumentos irrespondíveis, no qual, baseado em factos e sobretudo nos versos do poeta Teodoro de Castro, esmagava definitivamente as negativas do conde.

A revista não voltou a circular, ficara no primeiro número. O Jornal onde o conde atacara Pelópidas recusou-se a publicar-lhe a resposta e, a muito custo, resumiu as dezoito laudas do Doutor a vinte linhas impressas, num canto de página. Mas ainda hoje o Doutor vangloria-se dessa sua “violenta polémica” com um membro da Academia Brasileira de letras, nome conhecido em todo o país.

- Meu segundo artigo o esmagou e reduziu ao silêncio…

Nos anais da vida intelectual de Ihéus essa polémica é assídua e vaidosamente citada como prova da cultura ilheense, ao lado da menção honrosa obtida por Ari Santos – actual presidente do Grémio Rui Barbosa, moço empregado numa casa exportadora – num concurso de contos de revista carioca e de versos do já citado Teodoro de Castro.

Quanto aos amores clandestinos do Imperador e de Ofenísia, reduziram-se, ao que parece, a olhares, suspiros, juras murmuradas. O imperial viajante a teria conhecido na Baía, numa festa, apaixonara-se por seus olhos de desmaio. E como habitava no sobrado dos Ávilas, na Ladeira do Pelourinho, um certo padre Romualdo, latinista emérito, mais de uma vez o Imperador por lá apareceu a pretexto de visitar sacerdote de tanto saber.

Nos balcões rendilhados do sobradão, o Monarca do suspirava em latim de inconfessado e impossível desejo por essa flor dos Ávilas. Ofenísia, numa excitação de mucamas, rondava a sala onde as barbas negras e sábias do Imperador trocavam ciência com o padre, sob as vistas respeitosas e ignorantes de Luís António d’Ávila, seu irmão e chefe de família.

É certo ter Ofenísia, após a partida do imperial apaixonado, desencadeado uma ofensiva visando a mudarem-se todos para a corte, fracassando ante a obstinada resistência de Luís António, guardião da honra da donzela e da família.



(Ilhéus, click na imagem)

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