sábado, fevereiro 25, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA





Episódio Nº 32





Vou é para a pensão, trocar de roupa e tomar café – despediu-se Manuel das Onças.

- Eu também… - E Amâncio Leal o acompanhou.

A pequena multidão dirigia-se para o porto. O grupo de amigos comentava a notícia de Mundinho:

- Pelo jeito, ele conseguiu movimentar o Ministério. Já não era sem tempo.

- O homem tem prestígio de facto.

- Que mulher! Bocado de rei… - suspirava o coronel Ribeirinho.

Quando chegaram à ponte, já estava o navio nas manobras de atracação. Passageiros com destino a Baía, Aracaju, Maceió, Recife, olhavam curiosos, Mundinho Falcão foi dos primeiros a saltar, logo envolvido pelos abraços. O árabe desfazia-se em salamaleques.

Engordou mais, moço…

É o Rio de Janeiro que remoça…

A mulher loira – menos jovem do que parecia de longe, porém ainda mais formosa, bem vestida e bem pintada, “uma boneca estrangeira” como classificou o coronel Ribeirinho – e o homem esquelético estavam parados junto ao grupo, esperando. Mundinho fez as apresentações numa voz brincalhona de propagandista de circo:
- O Príncipe Sandra, mágico de primeira, e sua esposa, a bailarina Anabela… Vão fazer uma temporada aqui.

O homem que, de bordo, anunciava a dolorosa morte de alguém, abraçado agora com a família no cais, contava detalhes tristes:

- Levou um mês morrendo, coitadinha! Nunca se viu sofrer tanto… Gemia dia e noite, de cortar o coração.

Cresceram os soluços da mulher. Mundinho, os artistas, o Capitão, o doutor, Nacib, os fazendeiros, saíram andando pela ponte. Carregadores passavam com malas. Anabela abria uma sombrinha. Mundinho Falcão propôs a Nacib:

- Não quer contratar a moça para dançar no seu bar. Ela tem uma dança dos véus, meu caro, seria um sucesso…

Nacib levantou as mãos: - No bar? Isso é pró cinema ou prós cabarés… Eu estou querendo é uma cozinheira.

Riram todos. O Capitão tomou o braço de Mundinho:

- E o engenheiro?

- No fim do mês está aqui. O ministro me garantiu.

Das Irmãs Dos Reis e do seu Presépio

As irmãs Dos Rei, a roliça Quinquina e a franzina Florzinha, de volta da missa das sete da Catedral apressaram o passo miudinho ao verem Nacib, esperando, parado junto ao portão. Eram duas velhinhas álacres, somavam cento e vinte e oito anos de sólida virgindade indiscutida.

Gémeas, eram tudo o que sobrava da antiga família Ilheense de antes do cacau, daquela gente que cedera o seu lugar aos sergipanos,, aos sertanejos, aos alagoanos, aos árabes, italianos, e espanhóis, aos cearenses. Herdeiras da boa casa onde moravam – cobiçada por muito coronel rico – na rua Coronel Adami e de três outras na Praça da Matriz, viviam dos alugueis e dos doces vendidos à tarde pelo moleque Tuísca.

Doceiras eméritas, mãos de fada na cozinha, aceitavam por vezes encomendas para almoços e jantares de cerimónia.

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