sábado, março 31, 2012

Entrevista a Mário Soares (continuação)






E como é que se sente hoje perante Manuel Alegre?

Fui durante muitos anos amigo dele, tínhamos um contacto quase diário. Eu gosto dele, dou-me bem com o temperamento dele... Mas não aprecio a maneira como se tem comportado como militante do PS. Com um pé dentro e outro fora...

Se Manuel Alegre for candidato às Presidenciais, apoia-o?

Só me posso decidir, por um candidato, depois de haver um candidato oficial do Partido Socialista. Eu apoio o candidato do Partido Socialista, porque sou militante do Partido Socialista, desde a sua fundação. Hoje - diga-se - como militante de base, como convém à minha idade.

Escreveu há dias que José Sócrates podia fartar-se e ir-se embora...

Espero que não aconteça. Mas todos deviam ter algum cuidado com isso, incluindo os partidos e o Presidente Cavaco Silva. Se Sócrates decidisse ir-se embora agora, Portugal ficaria numa situação de verdadeira ingovernabilidade. (Esta posição não está actualizada)

Acha que se está já perante uma situação de esticar a corda?

Sim, estou muito preocupado com essa hipótese. É um sentimento generalizado em Portugal. A circunstância de a oposição estar a transformar o Parlamento num "governo de Assembleia" contraria as pessoas, sem haver mais do que uma coligação negativa, é muito perigoso.




A aliança táctica entre CDS e Bloco de Esquerda é nociva para ambos. Acho que é necessário - e urgente - que os partidos se renovem e apresentem alternativas a médio prazo, segundo os seus valores e ideologias. Os partidos não podem viver tacticamente ao sabor do momento, no dia-a-dia. Quando estamos numa situação económica tão difícil, podem acontecer eventos que não seremos capazes de prever. Que fujam ao controlo dos partidos. É preciso ter cuidado com isso. Há muitos exemplos históricos, nesse sentido. Todos péssimos...

Como vai comemorar o dia dos anos?

Vou ficar em casa, tenho muito que fazer, vou aproveitar para continuar a escrever um livro que tenho na forja. E ler. Tenho leituras em atraso.

Não liga ao dia de anos?

Não! Na minha idade os anos desfazem--se, não se fazem!

O seu sobrinho Eduardo disse uma vez que tinha menos quase 30 anos do que a sua idade real...

O meu sobrinho é um amigo... Não me queixo. Tenho bons genes. O meu Pai morreu aos 92. Fui muito doente quando era jovem, tinha asma. Mas por volta dos 18 anos a asma passou. E passou--me completamente, até agora. Dantes andava sempre com uma bomba no bolso, que me tirava a asma. Até houve uma história, depois da Campanha do Delgado, num 5 de Outubro, que lhe conto. Fui preso e posto, provisoriamente, antes de ir para a PIDE, numa esquadra no Alto de São João. Eu tinha um tio, irmão da minha mãe, que era uma excelente pessoa, bondoso e simples.

A minha mulher disse ao meu tio "Ó tio Nobre, veja se entra ali na esquadra e pergunta ao Mário se levou a bomba da asma". A esquadra estava numa confusão, presos e pessoas a entrar e a sair. Entra o meu tio pela esquadra dentro e grita: "Ó Mário, trouxeste a bomba?" O polícia levanta-se e diz: "Caiam em cima desse homem!" Eu gritei: "Alto! Essa bomba não é a sério, é só por causa da asma"...

Fim Da Entrevista

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