sexta-feira, março 02, 2012

GABRIELA
CRAVO

E
CANELA





Episódio Nº 37




Era homem de palavra, não ia deixar os amigos a ver navios, sem jantar para seus convidados. Como também não podia deixar o bar sem salgadinhos e doces. Se o fizesse, perdia a freguesia, o prejuízo seria maior. Mas aquilo não podia demorar mais de alguns dias, senão onde iria parar?

- Cozinheira boa é tão difícil de encontrar… - lastimou Florzinha.

- Quando aparece uma é disputada… - completou Quinquina.

Era verdade boa cozinheira em Ilhéus valia ouro, as famílias ricas mandavam buscar em Aracaju, em Feira de-Sant’Ana, em Estância.

Então, está certo, mando Chico Moleza com as compras.

Quanto antes, seu Nacib.

Levantava-se, estendia a mão às solteironas. Olhava mais uma vez a mesa cheia de revistas, o presépio por armar, as caixas de papelão atulhadas de figuras:

- Vou trazer as revistas. E muito obrigado por me tirar do aperto…

- Não há de quê. Fazemos pelo senhor. O que o senhor precisa é de se casar, seu Nacib. Se fosse casado, não lhe acontecia dessas…

- Com tanta moça solteira… E prendadas.

- Eu sei de uma óptima para o senhor, seu Nacib. Moça direita, não é dessas sirigaitas que só pensam em cinema e em dança… Distinta, sabe até tocar piano. Só que é pobre…

Era mania das velhas arrumar casamentos. Nacib riu:

- Quando resolver me casar venho directo aqui. Buscar noiva.

Da Desesperada Busca

Iniciara a desesperada busca pelo morro do Unhão. O corpanzil atirado para a frente, suando em bicas, o paletó sob o braço, Nacib percorrera Ilhéus de ponta a ponta naquela primeira manhã de sol após a longa estação das chuvas.

Reinava alegre animação nas ruas, onde fazendeiros, exportadores, comerciantes, trocavam exclamações e parabéns. Era dia de feira, as lojas estavam, os consultórios médicos e as farmácias a abarrotar.

Descendo e subindo ladeiras, cruzando ruas e praças, Nacib praguejava. Ao chegar em casa na véspera, cansado da jornada de trabalho e do leito de Risoleta, fizera seus cálculos para o dia seguinte: dormir até às dez horas, quando Chico Moleza e Bico Fino, feita a limpeza do bar, começavam a servir os primeiros fregueses. Dormir a sesta após o almoço. Jogar sua partida de gamão ou de damas, com Nhô-Galo e o Capitão, conversar com João Fulgêncio, saber as novidades locais e as notícias do mundo. Dar um pulo, após fechar o bar, ao cabaré, terminar a noite, quem sabe? Outra vez em Risoleta. Em vez disso, corria as ruas de Ilhéus, subia as ladeiras do morro.

No Unhão desfizera o trato com as duas cabrochas acertadas para ajuda Filomena no preparo do jantar da Empresa de Ónibus. Uma delas, rindo com a boca sem dentes, declarou saber o trivial. A outra nem isso…

Aracajé, abará, doces, moquecas e frigideiras de camarão, isso só mesmo Maria de São Jorge… Nacib perguntou aqui e ali, desceu pelo outro lado do morro. Cozinheira em Ilhéus, capaz de assegurar a cozinha de um bar, era coisa difícil, quase impossível.
(click num trecho da cidade de Ilhéus)

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