GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 41
- Depois vou pró bar…
A velha morrera há mais de seis meses, a filha quis-lhe contar a história da doença, Nacib não tinha tempo de ouvir. Um desânimo o invadia. Se pudesse ia era para a cama dormir.
Entrou pela Praça Seabra onde ficava o prédio da Intendência e a sede do Clube Progresso. Ia ruminando suas tristezas quando se lhe deparou o coronel Ramiro Bastos sentado num banco, tomando sol, bem em frente do palácio municipal.
Parou para cumprimentá-lo, o coronel fê-lo sentar-se ao seu lado.
Faz tempo que não lhe vejo, Nacib. E como vai o bar? Prosperando sempre? Assim desejo, pelo menos.
- Hoje me aconteceu uma, coronel… Minha cozinheira foi embora. Já corri Ilhéus inteiro, fui até ao Pontal e não se arranja quem saiba cozinhar…
- Fácil não é. Só mandando buscar fora ou nas roças…
- E com um jantar amanhã do russo Jacob…
- É verdade estou convidado, talvez vá.
O coronel sorria, contente do sol que brincava nos vidros das janelas da Intendência e lhe esquentava o corpo fatigado.
Do Dono da Terra Esquentando Sol
Nacib não conseguiu despedir-se, o coronel Ramiro Bastos não deixou. E quem iria discutir uma ordem do coronel mesmo quando ele a dava sorrindo como a solicitar:
- Muito cedo. Vamos conversar um pouco.
Nos dias de sol, invariavelmente às dez horas, apoiando-se numa bengala de castão de ouro, o passo vagaroso mas ainda firme, o coronel Ramiro Bastos atravessava a rua vindo de sua casa, entrava na Praça da Intendência, sentava-se num banco.
- A cobra já veio esquentar sol… - dizia o Capitão ao vê-lo da porta da Colectoria, em frente à Papelaria Modelo.
O coronel também o via, tirava o chapéu-panamá, balançando a cabeça de cabelos brancos. O Capitão respondia ao cumprimento, bem outro era o seu desejo.
Aquele era o mais lindo jardim da cidade. As más-línguas diziam ter a Intendência atenções especiais para com aquele logradouro devido à vizinhança da casa do coronel Ramiro. Mas a verdade é que na Praça Seabra elevavam-se também o edifício da Intendência, a sede do Progresso e o cinema Vitória, em cujo segundo andar residiam rapazes solteiros e funcionava, numa sala de frente, o Grémio Rui Barbosa.
Além de sobrados e casas das melhores da cidade. È natural que os poderes públicos cuidassem com especial carinho da Praça. Fora ela ajardinada durante um dos períodos do governo do coronel Ramiro.
Naquele dia o velho estava satisfeito, conversador. Finalmente o sol havia reaparecido, o coronel Ramiro o sentia nas costas curvadas, nas mãos ossudas, dentro do coração também. Aos oitenta e dois anos de idade, aquele sol da manhã era a sua diversão, seu luxo, sua melhor alegria.
Por ocasião das chuvas sentia-se infeliz, ficava na sala de visitas, na sua cadeira austríaca, atendendo gente, ouvindo pedidos, prometendo soluções. Desfilavam dezenas de pessoas diariamente.
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