GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 40
- Nacib interrompia a discussão dos preços; alguém sabia de uma boa cozinheira? Existia uma, muito boa, de forno e fogão, mas era empregada do comendador Domingos Ferreira, sim senhor. E vivia num trato, nem parecia empregada…
O Mascate estendia uns brincos a Nacib:
- Compra patrício, presente pra mulher, pra noiva, pra rapariga.
Nacib continuava seu caminho, indiferente a toda a tentação. As negrinhas compravam por metade do preço, pelo duplo do valor.
Um camelot com uma cobra mansa e um pequeno jacaré, anunciava a cura de todas as moléstias para um grupo a cercá-lo. Exibia um vidro contendo um remédio milagroso, descoberta dos índios nas selvas mais além dos cacauais.
- Cura tosse, resfriados, tísica, perebas, catapora, sarampo, bexiga brava, paludismo, dor de cabeça, íngua, tudo quanto é doença feia, cura espinhela caída e reumatismo…
Por uma ninharia, mil e quinhentos réis, cedia aquele vidro de saúde. A cobra subia pelo braço do camelot, o jacaré no chão imóvel como uma pedra estranha, Nacib perguntava a uns e outros.
- Cozinheira, sei não sinhor. Um bom pedreiro, eu sei…
Bilhas de barro, moringas, potes para água fresca, panelas, cuscuzeiros e cavalos, bois, cachorros, galos, jagunços com suas repetições, homens montados, soldados de polícia e cenas de tocaia, de enterro e casamento, valendo um tostão, dois, um cruzado, obra das mãos toscas e sábias dos artesãos. Um negro quase tão alto quanto Nacib virava um copo de cachaça de um trago, cuspia grosso no chão:
- Pinga de primeira, Nosso Senhor Jesus Cristo seja louvado.
Respondia à cansada pergunta:
- Não sei, não senhor. Tu sabe de alguma cozinheira, Pedro Paca? Aqui para o coronel…
O outro não sabia. Talvez no “mercado de escravos” só que agora não tinha mesmo ninguém, nenhuma leva de sertanejos recém-chegados.
Nacib nem se deu ao trabalho de ir ao “mercado de escravos” por detrás da Estrada de Ferro, onde se amontoavam os retirantes vindos do sertão, fugitivos da seca, em busca de trabalho. Ali os coronéis iam contratar trabalhadores e jagunços, as famílias procuravam empregadas.
Mas não havia ninguém naqueles dias. Aconselharam-no a dar uma busca no pontal. Pelo menos não tinha de subir ladeira. Tomou canoa, atravessou o ancoradouro. Andou pelas poucas ruas de areia, sob o sol, aonde crianças pobres jogavam futebol com bola de meia. Euclides, dono de uma padaria tirou-lhe as esperanças.
Cozinheira? Nem pense… Nem boa nem ruim. Na fábrica de chocolate ganham mais. nem adianta procurar.
Voltou a Ilhéus, cansado e sonolento. A estas horas o bar já devia estar aberto e, com o dia da feira, movimentado. Necessitando de sua presença, de suas atenções para com os fregueses, sua animação, sua prosa, sua simpatia. Os dois empregados - uns palermas – sozinhos não davam conta. Mas no Pombal lhes haviam falado de uma velha que fora cozinheira apreciada, trabalhara em várias casas e vivia com uma filha casada, perto da Praça Seabra. Decidiu tentar a sorte.
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