GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 46
Ficou outra vez sozinho na praça. Não sentia mais a alegria do sol, seu rosto ensombrecera-se. Pensava nos tempos de antes quando essas coisas eram fáceis de resolver. Quando alguém se fazia incómodo bastava chamar um cabra, prometer-lhe um dinheiro, dizer-lhe o nome do cujo.
Hoje era diferente. Mas esse Mundinho Falcão se enganava. Ilhéus mudara muito nesses anos, é bem verdade. O coronel Ramiro buscava compreender essa nova vida, esse Ilhéus nascendo daquele outro que fora o seu.
Pensara tê-lo compreendido, sentido seus problemas, suas necessidades. Não embelezara a cidade, não construíra praças e jardins, não calçara as ruas, não abrira até a estrada de rodagem, apesar dos seus compromissos com os ingleses da Estrada de Ferro. Porque então, assim de repente, a cidade parecia fugir das suas mãos? Porque começavam todos a fazer o que queriam, por conta própria, sem o ouvir, sem esperar que ele desse ordens? Que estava acontecendo em Ihéus que ele já não compreendia e já não comandava?
Não era homem de deixar-se vencer sem luta. Aquela era a sua terra, ninguém fizera mais por ela do que Ramiro Basto s, ninguém iria arrebatar-lhe o bastão de comando, fosse quem fosse. Sentia um novo tempo de luta aproximar-se. Diferente daquele de outrora, mais difícil, talvez.
Levantou-se, erguia-se como se pouco sentisse o peso dos anos. Podia estar velho, mas ainda não estava enterrado, e enquanto vivesse era ele quem mandava ali. Deixou o jardim, atravessou para o Palácio. O soldado de polícia postado na porta, bateu-lhe continência. O coronel Ramiro Bastos sorriu.
Da Conspiração Política
Na mesma hora em que o coronel Ramiro Bastos penetrava no edifício da Intendência e o árabe Nacib chegava ao bar Vesúvio sem ter encontrado cozinheira, em sua casa da praia Mundinho narrava ao Capitão:
- Uma batalha, meu caro. Não foi nada fácil.
Empurrou a xícara, esticou as pernas, espreguiçou-se na cadeira. Estivera rapidamente no escritório, arrastava o amigo para conversar em casa a pretexto de lhe contar as novidades. O capitão saboreou um gole de café, quis saber detalhes:
- Mas donde vem toda essa resistência? Afinal, Ilhéus não é um povoado qualquer. Um município que rende mais de mil contos.
Ora, meu caro, um ministro não é todo-poderoso. Tem que atender aos interesses dos governadores. E o governo da Baía quer ouvir falar de tudo menos da barra de Ilhéus. Cada saco de cacau que sai do porto da Baía significa dinheiro para as docas de lá. E o genro do governador é ligado ao pessoal das docas. O ministro me disse: “Seu Mundinho, você me vai deixar mal com o governador da Baía”.
- Uma indecência esse genro. É isso que os coronéis não querem compreender. Ainda hoje estávamos discutindo enquanto o Ita desencalhava. Eles apoiam um governo que tira tudo de Ilhéus e não nos dá nada.
- Ao contrário… Os políticos daqui também não se mexem.
Pois é: põem dificuldades a obras indispensáveis à cidade. Uma estupidez sem nome. Ramiro Bastos cruza os braços, não tem visão, os coronéis o acompanham.
Hoje era diferente. Mas esse Mundinho Falcão se enganava. Ilhéus mudara muito nesses anos, é bem verdade. O coronel Ramiro buscava compreender essa nova vida, esse Ilhéus nascendo daquele outro que fora o seu.
Pensara tê-lo compreendido, sentido seus problemas, suas necessidades. Não embelezara a cidade, não construíra praças e jardins, não calçara as ruas, não abrira até a estrada de rodagem, apesar dos seus compromissos com os ingleses da Estrada de Ferro. Porque então, assim de repente, a cidade parecia fugir das suas mãos? Porque começavam todos a fazer o que queriam, por conta própria, sem o ouvir, sem esperar que ele desse ordens? Que estava acontecendo em Ihéus que ele já não compreendia e já não comandava?
Não era homem de deixar-se vencer sem luta. Aquela era a sua terra, ninguém fizera mais por ela do que Ramiro Basto s, ninguém iria arrebatar-lhe o bastão de comando, fosse quem fosse. Sentia um novo tempo de luta aproximar-se. Diferente daquele de outrora, mais difícil, talvez.
Levantou-se, erguia-se como se pouco sentisse o peso dos anos. Podia estar velho, mas ainda não estava enterrado, e enquanto vivesse era ele quem mandava ali. Deixou o jardim, atravessou para o Palácio. O soldado de polícia postado na porta, bateu-lhe continência. O coronel Ramiro Bastos sorriu.
Da Conspiração Política
Na mesma hora em que o coronel Ramiro Bastos penetrava no edifício da Intendência e o árabe Nacib chegava ao bar Vesúvio sem ter encontrado cozinheira, em sua casa da praia Mundinho narrava ao Capitão:
- Uma batalha, meu caro. Não foi nada fácil.
Empurrou a xícara, esticou as pernas, espreguiçou-se na cadeira. Estivera rapidamente no escritório, arrastava o amigo para conversar em casa a pretexto de lhe contar as novidades. O capitão saboreou um gole de café, quis saber detalhes:
- Mas donde vem toda essa resistência? Afinal, Ilhéus não é um povoado qualquer. Um município que rende mais de mil contos.
Ora, meu caro, um ministro não é todo-poderoso. Tem que atender aos interesses dos governadores. E o governo da Baía quer ouvir falar de tudo menos da barra de Ilhéus. Cada saco de cacau que sai do porto da Baía significa dinheiro para as docas de lá. E o genro do governador é ligado ao pessoal das docas. O ministro me disse: “Seu Mundinho, você me vai deixar mal com o governador da Baía”.
- Uma indecência esse genro. É isso que os coronéis não querem compreender. Ainda hoje estávamos discutindo enquanto o Ita desencalhava. Eles apoiam um governo que tira tudo de Ilhéus e não nos dá nada.
- Ao contrário… Os políticos daqui também não se mexem.
Pois é: põem dificuldades a obras indispensáveis à cidade. Uma estupidez sem nome. Ramiro Bastos cruza os braços, não tem visão, os coronéis o acompanham.
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