sexta-feira, março 16, 2012

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA


Episódio Nº 49



Levou-o à fazenda de Ribeirinho, a Itabuna, a Pirangi, a Água Preta, explicou-lhe os costumes da terra, recomendou-lhes até mulheres. Mundinho, por sua vez, era homem sem pose, cordial, de camaradagem fácil.

O Capitão sentira-se a princípio apenas orgulhoso da intimidade daquele ricaço vindo do Sul, de família importante nos negócios e na política, irmão deputado, parentes na diplomacia. O mais velho tinha até sido falado para Ministro da Fazenda. Só depois, com o correr dos tempos e a múltipla actividade de Mundinho começara a cogitar e a planejar. Era o homem bom para se opor aos Bastos, para derrubá-los…

- Fui menino mimado. Na firma não tinha nada a fazer, os manos resolviam tudo. Homem feito, para eles, eu era um menino. Deixavam que eu me divertisse, depois chegaria minha vez, “minha hora de responsabilidade”, como dizia Lourival… - Seu rosto fechava-se ao falar do irmão mais velho.

- Você compreende? Cansei-me de não fazer nada, de ser o irmão mais moço. Talvez não reagisse nunca, fosse ficando naquela moleza, na boa vida. Aí apareceu a tal mulher… Uma coisa sem solução…- Seus olhos estavam agora voltados para o mar, ante a janela aberta, mas fitavam além do horizonte, lembranças e figuras que só ele enxergava.

- Bonita?

Mundinho Falcão teve um breve riso:

- Bonita é insulto falando dela. Sabe o que é beleza, Capitão? Tudo perfeito? Uma mulher assim não se chama bonita.

Passou a mão sobre o rosto a desfazer visões:

- Enfim, no fundo estou contente. Hoje não sou mais o irmão de Lourival, de Emílio Mendes Falcão. Sou eu mesmo. Essa é minha terra, tenho minha firma e vou, seu Capitão, virar esse Ilhéus do avesso, fazer disso aqui uma…

- …uma capital, como ainda hoje dizia o Doutor… - interrompeu o Capitão.

- Desta vez meus irmãos já me olharam doutra forma. Já perderam a esperança de me verem voltar fracassado, de cabeça baixa. A verdade é que não estou indo tão mal assim, hem?

- Mal? Você chegou outro dia e já é o primeiro exportador de cacau.

- Ainda não. Os Kaufmann exportam mais. Stevesson também. Mas passarei à frente deles. Porém, o que me prende é essa terra começando, esse princípio de tudo. Com tudo por fazer e eu podendo fazer tudo isso. Pelo menos - corrigiu-se - ajudar a fazer. É estimulante para um homem como eu.

- Você sabe o que andam dizendo por aí? – O Capitão levantava-se, atravessava a sala, chegara o momento.

- O quê? – Mundinho esperava, adivinhava as palavras do outro.

- Que você tem ambições políticas. Ainda hoje…

- Ambições políticas? Nunca pensei, pelo menos a sério. Tenho pensado em ganhar dinheiro e estimular o progresso da terra.

- Tudo isso é muito bonito, fica-lhe muito bem. Porém, você não vai conseguir fazer nem metade do que pensa enquanto não se meter em política, não modificar a situação aqui existente.

- Como? – As cartas estavam na mesa, o jogo começara.


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