GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 57
Gabriela no Caminho
A paisagem mudara, a inóspita caatinga (mata branca - ecossistema exclusivamente brasileiro) cedera lugar a terras férteis, verdes pastos, densos bosques a atravessar, rios e regatos, a chuva caindo farta.
Haviam pernoitado nas vizinhanças de um alambique, plantações de cana balançando ao vento. Um trabalhador lhe dera detalhadas explicações sobre o caminho a seguir: menos de um dia de marcha e estarão em Ilhéus, a viagem de temores terminada, uma nova vida a começar.
- Tudo quanto é retirante acampa perto do porto, prós lados da estrada de ferro, no fim da feira.
Num vai procurar trabalho? – perguntou o negro Fagundes.
-É melhor esperar, não demora e logo aparece gente pra contratar. Tanto para trabalhar nas roças de cacau ou na cidade…
- Também na cidade interessou-se Clemente, o rosto fechado, a harmónica no ombro, uma preocupação nos olhos.
- Inhô, sim. Pra quem tem ofício: pedreiro, carpina, pintor de casa. Tão levantando tanta casa em Ilhéus que é um desperdício.
- Só?
_ Tem ocupação também nos armazéns de cacau, nas docas
- Por mim – disse um sertanejo forte, de meia idade – vou é prás matas. Diz que um homem pode juntar dinheiro.
Faz tempo era assim. Hoje é mais custoso.
- Diz que um homem sabendo atirar tem boa aceitação… - falou o negro Fagundes passando a mão, quase numa carícia, sobre a repetição.
- Num tempo foi assim.
- E num é mais?
- Ainda tem a sua procura.
Clemente não tinha ofício. Labutara sempre no campo, plantar, roçar, e colher era tudo o que sabia. Ademais viera com a intenção de se meter nas roças de cacau, tinha ouvido tanta história de gente chegando como ele, batida pela seca, fugida do sertão, quase morta de fome, e enriquecendo naquelas terras em pouco tempo.
Era o que diziam pelo sertão, a fama de Ilhéus corria mundo, os cegos cantavam suas grandezas nas violas, os caixeiros viajantes falavam daquelas terras de fartura e valentia, ali um homem se arranjava num abrir e fechar de olhos, não havia lavoura mais próspera do que a do cacau.
Os bandos de emigrantes desciam do sertão, a seca nos seus calcanhares, abandonavam a terra árdua onde o gado morria e as plantações não vingavam, tomavam as picadas em direcção ao sul.
Muitos ficavam pelos caminhos, não suportavam a travessia de horrores, outros morriam ao entrar na região das chuvas onde o tifo e o paludismo, a bexiga, os esperavam. Chegavam dizimados, restos de famílias, quase mortos de cansaço, mas os corações pulsavam de esperança naquele dia derradeiro da marcha. Um pouco mais de esforço e teriam atingido a cidade rica e fácil. As terras do cacau onde dinheiro era lixo nas ruas.
Haviam pernoitado nas vizinhanças de um alambique, plantações de cana balançando ao vento. Um trabalhador lhe dera detalhadas explicações sobre o caminho a seguir: menos de um dia de marcha e estarão em Ilhéus, a viagem de temores terminada, uma nova vida a começar.
- Tudo quanto é retirante acampa perto do porto, prós lados da estrada de ferro, no fim da feira.
Num vai procurar trabalho? – perguntou o negro Fagundes.
-É melhor esperar, não demora e logo aparece gente pra contratar. Tanto para trabalhar nas roças de cacau ou na cidade…
- Também na cidade interessou-se Clemente, o rosto fechado, a harmónica no ombro, uma preocupação nos olhos.
- Inhô, sim. Pra quem tem ofício: pedreiro, carpina, pintor de casa. Tão levantando tanta casa em Ilhéus que é um desperdício.
- Só?
_ Tem ocupação também nos armazéns de cacau, nas docas
- Por mim – disse um sertanejo forte, de meia idade – vou é prás matas. Diz que um homem pode juntar dinheiro.
Faz tempo era assim. Hoje é mais custoso.
- Diz que um homem sabendo atirar tem boa aceitação… - falou o negro Fagundes passando a mão, quase numa carícia, sobre a repetição.
- Num tempo foi assim.
- E num é mais?
- Ainda tem a sua procura.
Clemente não tinha ofício. Labutara sempre no campo, plantar, roçar, e colher era tudo o que sabia. Ademais viera com a intenção de se meter nas roças de cacau, tinha ouvido tanta história de gente chegando como ele, batida pela seca, fugida do sertão, quase morta de fome, e enriquecendo naquelas terras em pouco tempo.
Era o que diziam pelo sertão, a fama de Ilhéus corria mundo, os cegos cantavam suas grandezas nas violas, os caixeiros viajantes falavam daquelas terras de fartura e valentia, ali um homem se arranjava num abrir e fechar de olhos, não havia lavoura mais próspera do que a do cacau.
Os bandos de emigrantes desciam do sertão, a seca nos seus calcanhares, abandonavam a terra árdua onde o gado morria e as plantações não vingavam, tomavam as picadas em direcção ao sul.
Muitos ficavam pelos caminhos, não suportavam a travessia de horrores, outros morriam ao entrar na região das chuvas onde o tifo e o paludismo, a bexiga, os esperavam. Chegavam dizimados, restos de famílias, quase mortos de cansaço, mas os corações pulsavam de esperança naquele dia derradeiro da marcha. Um pouco mais de esforço e teriam atingido a cidade rica e fácil. As terras do cacau onde dinheiro era lixo nas ruas.
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