GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 65
Sobretudo nos bares, cuja frequência crescera apenas a notícia circulara. Especialmente a do bar do Vesúvio, situado nas proximidades do local da tragédia. Em frente à casa do dentista, pequeno bangaló na praia, juntavam-se curiosos.
Um soldado da polícia postado à porta dava explicações. Cercavam a empregada apalermada, queriam detalhes. Moças do Colégio das Freiras numa excitação álacre, exibiam-se no passeio da praia, cochichavam-se segredos.
O professor Josué, aproveitara-se para aproximar-se de Malvina, relembrava para o grupo de moças amores célebres, Romeu e Julieta, Heloísa e Abelardo, Dirceu e Marília.
E toda aquela gente terminava no bar de Nacib, enchendo as mesas, comentando e discutindo. Unanimemente davam razão ao fazendeiro, não se elevava a voz – nem mesmo de mulher em átrio de igreja – para defender a pobre e formosa Sinhàzinha.
Mais uma vez o coronel Jesuíno demonstrara ser homem de fibra, decidido, corajoso, íntegro, como aliás à sociedade o provara durante a conquista da terra. Segundo recordavam, muitas cruzes no cemitério e na beira das estradas deviam-se aos seus jagunços, cuja fama não fora esquecida.
Não só utilizar jagunços, mas os comandara também em ocasiões famosas, como aquele encontro com os homens do finado major Fortunato Pereira na encruzilhada da Boa Morte, nos perigosos caminhos de Ferradas. Era homem sem medo e obstinado.
Esse Jesuíno Mendonça, de uns famigerados Mendonças, de Alagoas, chegara a Ilhéus ainda jovem quando da luta pelas terras. Desbravara selvas e plantara roças, disputando a tiro a posse do solo, suas propriedades cresceram e seu nome fez-se respeitado.
Casara com Sinhàzinha Guedes, formosura local, de antiga família Ilheense, órfã de pai e herdeira de um coqueiral para as bandas de Olivença. Quase vinte anos mais moça do que o marido, bonitona, freguesa assídua das lojas de fazendas e sapatos, principal organizadora das festas da Igreja de São Sebastião, aparentada de longe com o Doutor, passando longos períodos na fazenda, Sinhàzinha jamais dera que falar, em todos aqueles anos de casada, aos muitos maledicentes da cidade.
De súbito, naquele dia de sol esplêndido, na hora calma da sesta, o coronel Jesuíno Mendonça descarregara seu revólver na esposa e no amante, emocionando a cidade, trazendo-a, mais uma vez para o remoto clima de sangue, fazendo com que o próprio Nacib esquecesse seu problema tão grave de cozinheira.
Também o Capitão e o Doutor esqueceram suas preocupações políticas e o próprio coronel Ramiro Bastos, informado do infortúnio, deixou de pensar em Mundinho Falcão. A notícia correra rápida como relâmpago e cresceram o respeito e a admiração que já cercavam a figura magra e um tanto sombria do fazendeiro.
Porque assim era em Ilhéus: honra de marido enganado só com sangue podia ser lavada.
Assim era. Numa região recém-chegada de barulhos e lutas frequentes, quando as estradas para as tropas de burro e mesmo para os caminhões abriam-se sobre picadas feitas por jagunços, marcadas pelas cruzes dos caídos nas tocaias, onde a vida humana possuía pouco valor, não se conhecia outra lei para traição de esposa além da morte violenta.
(Click na imagem do coronel Jesuíno Mendonça que esvaziou o revólver na mulher e no amante apanhados em flagrante...)
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