segunda-feira, abril 02, 2012

POEMA DE AMOR EM TEMPOS DE CRISE FINANCEIRA


Como pode um investimento tão fiável
Garantir este rendimento crescente, numa
diária distribuição de beijos e outras mais-
- valias, ainda por cima livres de impostos?


Embora confiasse na tua competência
Para criar valor, confesso que não esperava
Tanto quando decidi aplicar nos teus títulos
Os meus parcos activos emocionais.

O mais estranho, no mundo actual, é ser este
Um negócio sem perdedores, aparentemente
Imune ao nervosismo das tuas acções
Ou às flutuações do meu comércio libidinal.

O meu único receio é que despertemos
A inveja dos deuses, no Olimpo de Bruxelas,
e que o Mercado, o monstruoso Titã, decida
baixar para lixo o rating da nossa relação,

deixando-nos sem crédito na praça romanesca
e em default o coração. Mas não sejamos
pessimistas. Aliás ambos sabemos que Cupido
nos ampara com sua mão invisível. E mesmo

que entrássemos ambos em depressão, tenho
a certeza que o Estado português nos daria
todo o apoio, concordando que um amor como
este é simplesmente demasiado grande para falir.

José Miguel Silva
(Semanário Expresso)

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