GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 62
No jardim, a cuidar de suas flores, ajoelhada entre elas, mais belas que elas, sonhava Malvina, filha única de Melk, aluna do Colégio das Freiras, por quem suspirava Josué.
Todas as tardes terminadas as aulas e a indispensável prosa na Papelaria Modelo, o professor vinha passear na praça, vinte vezes passava ante o jardim de Malvina, vinte vezes o seu olhar suplicante pousava-se na moça em muda declaração.
No bar de Nacib, os fregueses habituais seguiam a peregrinação quotidiana com comentários risonhos:
- O professor é obstinado…
- Quer fazer sua independência… - ganhar roça de cacau sem o trabalho de plantar.
- Lá vai ele para sua penitência… - diziam as solteironas ao vê-lo chegar à praça, afobado e simpatizavam com ele, com aquela ardente paixão não correspondida.
- O que ela, é eu sei: uma sirigaita metida a importante. Que espera melhor do que um moço tão inteligente?
- Mas pobre…
- Casamento de dinheiro não traz felicidade. Um moço tão bom, tão cheio de letras, até escreve versos…
Nas proximidades da igreja, Josué diminuía o passo acelerado, tirava o chapéu, dobrando-se quase em dois ao cumprimentar as solteironas.
- Tão educado. Um moço fino…
- Mas fraco do peito…
- Dr. Plínio disse que ele não tem nada do pulmão. É só franzino.
- Uma espevitada, é o que ela é. Porque tem uma carinha bonita e o pai tem dinheiro. E o moço, coitado tão influído… – Um suspiro elevava-se do peito encarquilhado.
Seguido pelos simpáticos comentários das solteironas e pelas injustas opiniões emitidas no bar, aproximava-se Josué da janela de Glória.
Era para ver Malvina, bela e fria, que, nos fins da tarde, ele vinte vezes fazia aquele percurso em passos lentos, um livro de versos na mão. Mas de passagem, o seu olhar romântico pousava nos seios altos de Glória colocados na janela com sobre uma bandeja azul. E dos seus seios subia para o rosto moreno, de lábios carnudos e ávidos, de olhos entornados em permanente convite.
Acendiam-se em pecaminoso e material desejo os olhos românticos de Josué e um calor cobria-lhe a palidez da face. Por um instante apenas, pois, passada a tentação da janela mal-afamada, retornavam seus olhos à expressão de súplica e desesperança, mais pálida ainda era sua face, olhos e face para Malvina.
Também o professor Josué criticava, em seu foro íntimo, a infeliz ideia do coronel Coreolano Ribeiro, fazendeiro rico, de instalar na Praça, em rua onde moravam as melhores famílias, a dois passos da casa do coronel Melk Tavares, sua concubina tão apetecida e tão se oferecendo.
Fosse noutra rua qualquer, mais distante do jardim de Malvina, e ele poderia talvez arriscar-se numa noite sem lua para cobrar todas as promessas lidas nos olhos de Glória a chamá-lo, nos lábios entreabertos.
(Click na imagem de Malvina, filha do coronel Melk Tavares, por quem o professor Josué morre de amores)
Todas as tardes terminadas as aulas e a indispensável prosa na Papelaria Modelo, o professor vinha passear na praça, vinte vezes passava ante o jardim de Malvina, vinte vezes o seu olhar suplicante pousava-se na moça em muda declaração.
No bar de Nacib, os fregueses habituais seguiam a peregrinação quotidiana com comentários risonhos:
- O professor é obstinado…
- Quer fazer sua independência… - ganhar roça de cacau sem o trabalho de plantar.
- Lá vai ele para sua penitência… - diziam as solteironas ao vê-lo chegar à praça, afobado e simpatizavam com ele, com aquela ardente paixão não correspondida.
- O que ela, é eu sei: uma sirigaita metida a importante. Que espera melhor do que um moço tão inteligente?
- Mas pobre…
- Casamento de dinheiro não traz felicidade. Um moço tão bom, tão cheio de letras, até escreve versos…
Nas proximidades da igreja, Josué diminuía o passo acelerado, tirava o chapéu, dobrando-se quase em dois ao cumprimentar as solteironas.
- Tão educado. Um moço fino…
- Mas fraco do peito…
- Dr. Plínio disse que ele não tem nada do pulmão. É só franzino.
- Uma espevitada, é o que ela é. Porque tem uma carinha bonita e o pai tem dinheiro. E o moço, coitado tão influído… – Um suspiro elevava-se do peito encarquilhado.
Seguido pelos simpáticos comentários das solteironas e pelas injustas opiniões emitidas no bar, aproximava-se Josué da janela de Glória.
Era para ver Malvina, bela e fria, que, nos fins da tarde, ele vinte vezes fazia aquele percurso em passos lentos, um livro de versos na mão. Mas de passagem, o seu olhar romântico pousava nos seios altos de Glória colocados na janela com sobre uma bandeja azul. E dos seus seios subia para o rosto moreno, de lábios carnudos e ávidos, de olhos entornados em permanente convite.
Acendiam-se em pecaminoso e material desejo os olhos românticos de Josué e um calor cobria-lhe a palidez da face. Por um instante apenas, pois, passada a tentação da janela mal-afamada, retornavam seus olhos à expressão de súplica e desesperança, mais pálida ainda era sua face, olhos e face para Malvina.
Também o professor Josué criticava, em seu foro íntimo, a infeliz ideia do coronel Coreolano Ribeiro, fazendeiro rico, de instalar na Praça, em rua onde moravam as melhores famílias, a dois passos da casa do coronel Melk Tavares, sua concubina tão apetecida e tão se oferecendo.
Fosse noutra rua qualquer, mais distante do jardim de Malvina, e ele poderia talvez arriscar-se numa noite sem lua para cobrar todas as promessas lidas nos olhos de Glória a chamá-lo, nos lábios entreabertos.
(Click na imagem de Malvina, filha do coronel Melk Tavares, por quem o professor Josué morre de amores)
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