GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 68
- Qual! Coisa tão fácil… - Parecia um príncipe a distribuir benfeitorias, títulos de nobreza, dinheiro e favores, magnânimo.
- E o senhor o que pensa do crime? – perguntou Iracema, fogosa morena de namoricos falados no portão de sua casa.
Malvina adiantou-se para ouvir a resposta. Mundinho abriu os braços:
- É sempre triste saber da morte de mulher bonita. Sobretudo morte assim horrível. Mulher bonita é sagrada.
- Mas ela enganava o marido – acusou Celestina, tão moça e já tão solteirona.
- Entre a morte e o amor prefiro o amor…
- O senhor também faz versos? – sorriu Malvina.
- Quem? Eu? Não senhorita, não tenho esses dons. O poeta aqui é o nosso professor.
- Pensei. O que o senhor disse parece um verso…
- Bela frase, não há dúvida – apoiou Josué.
Mundinho, pela primeira vez, prestou atenção a Malvina. Bonita moça, os olhos não o largavam, fundos e misteriosos.
- O senhor diz isso porque é solteiro – frisou Celestina.
- E a senhorita também não é?
Riram todos. Mundinho despediu-se. Os olhos de Malvina o perseguiam, pensativos. Iracema ria um riso quase descarado:
- Esse seu Mundinho… - E como o exportador se afastasse, caminho de casa: - Beleza de rapaz!
No bar, Ary Santos – o Ariosto das crónicas no Diário de Ilhéus, empregado em casa exportadora e presidente do Grémio Rui Barbosa – curvou-se sobre a mesa, ciciou o detalhe:
- Ela estava nuinha…
- Toda?
- Inteira? – A voz gulosa do Capitão.
- Todinha… A única coisa que levava era umas meias pretas.
- Pretas? – Nhô-Galo escandalizava-se
- Meias pretas, oh! – O Capitão estalava a língua.
- Devassa… - condenou o Dr. Maurício Caíres.
- Devia estar uma beleza – O árabe Nacib, de pé, viu de repente Dª Sinhàzinha nua, calçada de meias pretas. Suspirou.
O detalhe constaria dos autos, depois. Requinte do dentista, sem dúvida, moço da capital, nascido e formado na Bahia de onde viera para Ilhéus após a colocação de grau, havia poucos meses, atraído pela fama da terra rica e próspera. Dera-se bem. Alugara aquele bangaló na praia, ali mesmo instalara o consultório, na sala da frente, e os passantes podiam ver, pela larga janela, das dez ao meio-dia e das três às seis da tarde, a cadeira nova, reluzente de metais, de fabricação japonesa, o dentista elegante em sua bata branca trabalhando a boca dos clientes. O pai dera-lhe dinheiro para o consultório, nos primeiros meses fornecia-lhe mesada para ajudar nas despesas, era comerciante na Bahia, com loja na Rua Chile.
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