Comemora-se hoje mais um ano sobre a Revolução do 25 de Abril e, na minha opinião, a revolução verdadeiramente
merecedora de ser comemorada até porque era óbvia num regime político
apodrecido de velhos jarretas.
Desse dia, há 38 anos atrás, não ficaram
viúvas para lamentarem os seus homens, nem mães a chorarem os filhos, nem a
Nação empobrecida por ter visto abalar os seus melhores cidadãos envolvidos
numa luta fratricida ou simplesmente vítimas de balas perdidas.
Nesse dia, não houve balas a cruzar os
ares, o sangue não correu pelas ruas, o ódio e a vingança não ditaram as suas
leis e à noite os portugueses deitaram-se cansados de festejar e adormeceram
sem remorsos a pesarem-lhes na consciência.
Nesse dia, os portugueses transformaram
em sorrisos o que poderiam ter sido lágrimas e em vez de barricadas o que se
viu foram gritos de vitória, beijos e abraços, a confraternização de um povo
feliz.
Inverteu-se um destino, mudou-se um
rumo, caiu um regime e não rolaram cabeças que, em vez disso, foram amavelmente
convidadas a seguir para destinos turísticos.
Revolução como esta não consta dos
manuais da história e se antes dela alguém tivesse falado em “Revolução dos
Cravos” no mínimo teria sido entendida como uma piada de mau gosto.
Mas também é verdade que Carros de Combate que
descem à capital com tropas para tomar o poder e param aos sinais vermelhos do
trânsito aguardando disciplinadamente que surja o verde para seguirem a sua
marcha, só é entendível numa “Revolução de Cravos”…!!!
E quando, obtida a vitória, ao fim do
dia, o principal responsável operacional, Capitão Salgueiro Maia, regressa ao
Quartel para continuar no dia seguinte as suas funções como se nada de
importante se tivesse passado, mais reforçada fica a ideia que a Revolução era
mesmo de Cravos.
Mas se ainda subsistissem dúvidas,
sabe-se hoje, trinta e oito anos depois, que todos os oficiais vitoriosos, promotores da Revolução, recusaram promoções próprias
de uma qualquer República das Bananas, não tendo beneficiado nada com ela. O
ideólogo da revolução, major Melo Antunes, já falecido, se Major era assim
continuou, o Capitão Salgueiro Maia, que também já não está entre nós, o grande operacional que interviu com
inteligência, determinação e sensibilidade no nevrálgico Terreiro do Paço, foi
mais prejudicado que beneficiado na sua carreira e por aí fora… de acordo com a ideia concertada
previamente pelos então “Capitães de Abril” de que a “vitória”, a acontecer,
não deveria conduzir “a uma onda de promoções, graduações ou condecorações.”
Percebo que era difícil ao Movimento dos
Capitães ter enviado para todos os países do mundo um convite para que um
pequeno grupo de pessoas, seus representantes, tivesse estado presente a
assistir à Revolução dos Cravos.
Eles perderam um belo espectáculo e uma
grande lição dada por um pequeno país de pessoas que eram tristes porque há
muito tinham perdido a liberdade mas que guardavam dentro de si a esperança de
um dia a reencontrarem e então, pelo menos nesse dia, serem felizes, muito
felizes, com aquela felicidade que só a liberdade reconqui stada
proporciona.
Se a vida de um país pudesse ser
comparada com a de uma pessoa que nasce, cresce, vive e morre, eu não teria
dúvida nenhuma em afirmar que o dia 25 de Abril do ano 1974 da vida dessa
pessoa, foi o mais fascinante de todos porque congregou, em doses de volúpia,
sentimentos de amor e de esperança no futuro como ela nunca viveu nem viverá em
um só dia.
Comemora-se a Revolução a qual, muito
apropriadamente, se chamou dos Cravos, mas poder-se-ia, com a mesma
propriedade, ter sido chamada da Alegria, da Esperança, da Felicidade.
Tudo o que aconteceu de então para cá, de bom ou de mau, foi apenas da responsabilidade dos portugueses porque a liberdade e a democracia é isso mesmo, um processo de responsabilização dos cidadãos.
Tudo o que aconteceu de então para cá, de bom ou de mau, foi apenas da responsabilidade dos portugueses porque a liberdade e a democracia é isso mesmo, um processo de responsabilização dos cidadãos.
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