quarta-feira, abril 25, 2012



Comemora-se hoje mais um ano sobre a Revolução do 25 de Abril e, na minha opinião, a revolução verdadeiramente merecedora de ser comemorada até porque era óbvia num regime político apodrecido de velhos jarretas.

Desse dia, há 38 anos atrás, não ficaram viúvas para lamentarem os seus homens, nem mães a chorarem os filhos, nem a Nação empobrecida por ter visto abalar os seus melhores cidadãos envolvidos numa luta fratricida ou simplesmente vítimas de balas perdidas.

Nesse dia, não houve balas a cruzar os ares, o sangue não correu pelas ruas, o ódio e a vingança não ditaram as suas leis e à noite os portugueses deitaram-se cansados de festejar e adormeceram sem remorsos a pesarem-lhes na consciência.

Nesse dia, os portugueses transformaram em sorrisos o que poderiam ter sido lágrimas e em vez de barricadas o que se viu foram gritos de vitória, beijos e abraços, a confraternização de um povo feliz.

Inverteu-se um destino, mudou-se um rumo, caiu um regime e não rolaram cabeças que, em vez disso, foram amavelmente convidadas a seguir para destinos turísticos.

Revolução como esta não consta dos manuais da história e se antes dela alguém tivesse falado em “Revolução dos Cravos” no mínimo teria sido entendida como uma piada de mau gosto.

 Mas também é verdade que Carros de Combate que descem à capital com tropas para tomar o poder e param aos sinais vermelhos do trânsito aguardando disciplinadamente que surja o verde para seguirem a sua marcha, só é entendível numa “Revolução de Cravos”…!!!

E quando, obtida a vitória, ao fim do dia, o principal responsável operacional, Capitão Salgueiro Maia, regressa ao Quartel para continuar no dia seguinte as suas funções como se nada de importante se tivesse passado, mais reforçada fica a ideia que a Revolução era mesmo de Cravos.

Mas se ainda subsistissem dúvidas, sabe-se hoje, trinta e oito anos depois, que todos os oficiais vitoriosos, promotores da Revolução, recusaram promoções próprias de uma qualquer República das Bananas, não tendo beneficiado nada com ela. O ideólogo da revolução, major Melo Antunes, já falecido, se Major era assim continuou, o Capitão Salgueiro Maia, que também já não está entre nós, o grande operacional que interviu com inteligência, determinação e sensibilidade no nevrálgico Terreiro do Paço, foi mais prejudicado que beneficiado na sua carreira e por aí fora… de acordo com a ideia concertada previamente pelos então “Capitães de Abril” de que a “vitória”, a acontecer, não deveria conduzir “a uma onda de promoções, graduações ou condecorações.”

Percebo que era difícil ao Movimento dos Capitães ter enviado para todos os países do mundo um convite para que um pequeno grupo de pessoas, seus representantes, tivesse estado presente a assistir à Revolução dos Cravos.

Eles perderam um belo espectáculo e uma grande lição dada por um pequeno país de pessoas que eram tristes porque há muito tinham perdido a liberdade mas que guardavam dentro de si a esperança de um dia a reencontrarem e então, pelo menos nesse dia, serem felizes, muito felizes, com aquela felicidade que só a liberdade reconquistada proporciona.

Se a vida de um país pudesse ser comparada com a de uma pessoa que nasce, cresce, vive e morre, eu não teria dúvida nenhuma em afirmar que o dia 25 de Abril do ano 1974 da vida dessa pessoa, foi o mais fascinante de todos porque congregou, em doses de volúpia, sentimentos de amor e de esperança no futuro como ela nunca viveu nem viverá em um só dia.

Comemora-se a Revolução a qual, muito apropriadamente, se chamou dos Cravos, mas poder-se-ia, com a mesma propriedade, ter sido chamada da Alegria, da Esperança, da Felicidade.
Tudo o que aconteceu de então para cá, de bom ou de mau, foi apenas da responsabilidade dos portugueses porque a liberdade e a democracia é isso mesmo, um processo de responsabilização dos cidadãos.


Site Meter