GABRIELA CRAVO E CANELA
Episódio Nº 81
O bar começava a despovoar-se. O coronel
Ribeirinho partira no rasto dos artistas.
Tonico Bastos vinha encostar-se ao
balcão, junto à caixa. Nacib vestia o paletó, dava ordens a Chico Moleza e a
bico Fino. Tonico contemplava absorto o fundo quase vazio do cálice.
Pensando na dançarina? Aqui lo é comida de luxo, é preciso gastar os tubos… A
concorrência vai ser grande. Ribeirinho já está de olho…
-
Estava pensando em
Sinhàzinha. Que horror seu Nacib…
-
Já tinham me falado dela com o dentista. Juro que não acreditei. Era tão séria.
-
Você é um ingénuo – Servia-se ele mesmo, íntimo do bar, enchia novamente o
copo, mandava botar na conta, pagava no fim do mês – Mas podia ter sido pior,
bem pior.
Nacib baixou a voz assombrado.
-
Você também navegou naquelas águas’
Tonico não teve coragem de afirmar,
bastava-lhe criar a dúvida, a suspeita. Fez um gesto com a mão.
-
Parecia tão séria… – a voz de Nacib se acanhava. Vai-se ver e debaixo dessa
seriedade toda… Você, hem!
-
Não seja má-língua, árabe. Deixe os mortos em paz.
Nacib abriu a boca, ia dizer qualquer
coisa, não disse, apenas suspirou. Então o dentista não tinha sido o primeiro…
Esse danado do Tonico, com sua faixa de cabelos brancos, mulherengo como ele só,
também a tivera nos braços, tomara daquele corpo.
Quantas vezes, ele, Nacib, não a
acompanhara com olhos de cobiça e respeito quando Sinhàzinha passava frente ao
bar para a igreja.
É por isso que não me caso nem meto com
mulher casada.
-
Nem eu… disse Tonico.
- Cínico…
Encaminhava-se para a rua:
-
Vou ver se encontro cozinheira. Chegaram uns retirantes. Quem sabe se tem
alguma que sirva.
Na janela de Glória, o negrinho Tuísca
contava-lhe as novidades, detalhes do crime, coisas ouvidas no bar. Agradecida,
a mulata afagava a carapinha do moleque, beliscava-lhe o rosto. O Capitão,
tendo ganho a partida, olhava a cena.
-
Êta negrinho feliz!
Da Hora Triste do Crepúsculo
Andando para a Estrada de Ferro na hora
triste do crepúsculo, o chapelão de abas largas, o revólver na cinta, Nacib
recordava Sinhàzinha. Do interior das casas vinha um ruído de mesas postas,
risos e conversas. Falariam, certamente de Sinhàzinha e de Osmundo. Nacib a
recordava com ternura, a desejar no escondido do coração, fosse esse miserável
Jesuíno Mendonça, sujeito arrogante e antipático, condenado pela justiça, coisa
impossível, bem certo, porém merecida. Costumes ferozes, esses de Ilhéus…
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