terça-feira, abril 24, 2012


GABRIELA CRAVO E CANELA
Episódio Nº 81


O bar começava a despovoar-se. O coronel Ribeirinho partira no rasto dos artistas.

Tonico Bastos vinha encostar-se ao balcão, junto à caixa. Nacib vestia o paletó, dava ordens a Chico Moleza e a bico Fino. Tonico contemplava absorto o fundo quase vazio do cálice.

Pensando na dançarina? Aquilo é comida de luxo, é preciso gastar os tubos… A concorrência vai ser grande. Ribeirinho já está de olho…

 - Estava pensando em Sinhàzinha. Que horror seu Nacib…

 - Já tinham me falado dela com o dentista. Juro que não acreditei. Era tão séria.

 - Você é um ingénuo – Servia-se ele mesmo, íntimo do bar, enchia novamente o copo, mandava botar na conta, pagava no fim do mês – Mas podia ter sido pior, bem pior.

Nacib baixou a voz assombrado.

 - Você também navegou naquelas águas’

Tonico não teve coragem de afirmar, bastava-lhe criar a dúvida, a suspeita. Fez um gesto com a mão.

 - Parecia tão séria… – a voz de Nacib se acanhava. Vai-se ver e debaixo dessa seriedade toda… Você, hem!

 - Não seja má-língua, árabe. Deixe os mortos em paz.

Nacib abriu a boca, ia dizer qualquer coisa, não disse, apenas suspirou. Então o dentista não tinha sido o primeiro… Esse danado do Tonico, com sua faixa de cabelos brancos, mulherengo como ele só, também a tivera nos braços, tomara daquele corpo.

Quantas vezes, ele, Nacib, não a acompanhara com olhos de cobiça e respeito quando Sinhàzinha passava frente ao bar para a igreja.

É por isso que não me caso nem meto com mulher casada.

 - Nem eu… disse Tonico.

- Cínico…

Encaminhava-se para a rua:

 - Vou ver se encontro cozinheira. Chegaram uns retirantes. Quem sabe se tem alguma que sirva.

Na janela de Glória, o negrinho Tuísca contava-lhe as novidades, detalhes do crime, coisas ouvidas no bar. Agradecida, a mulata afagava a carapinha do moleque, beliscava-lhe o rosto. O Capitão, tendo ganho a partida, olhava a cena.

 - Êta negrinho feliz!

Da Hora Triste do Crepúsculo

Andando para a Estrada de Ferro na hora triste do crepúsculo, o chapelão de abas largas, o revólver na cinta, Nacib recordava Sinhàzinha. Do interior das casas vinha um ruído de mesas postas, risos e conversas. Falariam, certamente de Sinhàzinha e de Osmundo. Nacib a recordava com ternura, a desejar no escondido do coração, fosse esse miserável Jesuíno Mendonça, sujeito arrogante e antipático, condenado pela justiça, coisa impossível, bem certo, porém merecida. Costumes ferozes, esses de Ilhéus…
(Click na Imagem e aumente)

Site Meter