CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 104
Também ele tinha lido o artigo no jornal
e também ele temia pelo sucesso da festa. Gente esquentada, essa de Ilhéus… Seu
sócio, Moacir Estrela, esperava, na garagem pessoas, incluindo o Intendente e o
Juiz de Direito.
E agora esse malfadado artigo a lançar a
cizânia, a desconfiança e a divisão entre os seus convidados.
-
Isso ainda vai dar muito que falar.
O Capitão, tendo aparecido antes para a
costumeira partida de gamão, confidenciara a Nacib ser o artigo apenas um
começo. O primeiro de uma série, e não irão ficar em artigos, Ilhéus viveria
grandes dias. O Doutor, os dedos sujos de tinta, os olhos brilhantes de
vaidade, lá estivera rapidamente, declarando-se ocupadíssimo. Quanto a Tonico
Bastos, não voltara ao bar, constava ter sido chamado com urgência ao coronel
Ramiro.
Os primeiros convidados a chegar foram
os de Itabuna, louvando a viagem em marinete, o percurso feito em hora e meia,
apesar da estrada não estar ainda completamente seca.
Olhavam com condescendente curiosidade
as ruas, as casas, a Igreja, o bar Vesúvio, o stock de bebidas, o cine teatro
Ilhéus, achando que em Itabuna tudo era melhor, não havia igrejas como as de lá, cinema melhor do que o deles,
casas que se igualassem às novas moradias itabunenses, bares mais ricos em
bebidas, cabarés tão frequentados.
Naquele tempo a rivalidade entre as duas
cidades da zona do cacau começava a tomar corpo. Os itabunenses falavam do
progresso sem medidas, do crescimento espantoso da sua terra, ainda a alguns
anos simples distritos de Ilhéus, uma aldeia conhecida por Tabocas. Discutiam
com o Capitão, falavam do caso da barra.
Famílias dirigiam-se ao cinema para
assistirem à estreia do mágico Sandra, olhavam o movimento do bar, as figuras
importantes ali reunidas, a grande mesa em forma de T.
Jacob e Moacir recebiam os convidados.
Mundinho Falcão chegou com Clóvis Costa, houve um movimento de curiosidade. O
exportador foi abraçar os itabunenses, havia entre eles fregueses seus.
O coronel Amâncio em companhia de Manuel
das Onças, contava ter Jesuíno partido, devidamente autorizado pelo Juiz, para
sua fazenda onde aguardaria o andamento do processo. O coronel Ribeirinho não
tirava os olhos da porta do cinema, na esperança de ver Anabela chegar.
A conversa generalizava-se, falava-se
dos enterros, do crime da véspera, de negócios, do fim das chuvas, das
perspectivas da safra, do Príncipe Sandra e de Anabela, evitava-se
cuidadosamente qualquer referência ao caso da barra, ao artigo do Diário de
Ilhéus. Como se todos temessem iniciar as hostilidades, ninguém qui sesse assumir tal responsabilidade.
Quando, por volta das oito horas, já iam
sentar-se à mesa, da porta do bar alguém anunciou:
-
Lá vem coronel Ramiro com Tonico.
Amâncio Leal dirigiu-se ao seu encontro.
Nacib sobressaltou-se: a atmosfera ficara mais tensa, os risos soavam falsos,
ele percebia os revólveres sob os paletós. Mundinho Falcão conversava com João
Fulgêncio, o Capitão se aproximou deles. Podia-se ver, do outro lado da Praça,
o professor Josué no portão de Malvina.
O coronel Ramiro Bastos, o cansado passo
apoiado na bengala, penetrou no bar, adiantou-se cumprimentando um a um. Parou
diante de Clóvis, apertou-lhe a mão:
-
Como vai o jornal, Clóvis? Prosperando?
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