GABRIELA
E
CANELA
Episódio Nº 87
Da Canoa Na Selva
- Diz que o coronel Jesuíno matou a mulher lá dele e um doutor que dormia com ela. É mesmo verdade, coronel? – perguntou um remeiro a Melk Tavares.
-
Também ouvi falar… – disse outro.
-
Verdade, sim. Apanhou a mulher na cama com o dentista. Despachou os dois.
-
Mulher é bicho ruim, faz a desgraça da gente.
A canoa subia o rio, a selva crescia nos
barrancos, os sertanejos olhavam a paisagem inédita, um vago terror no coração.
A noite precipitava-se das árvores sobre as águas, assustadora.
A canoa era quase um batelão de tão
grande, descia carregada de sacos de cacau, voltava cheia de mantimentos. Os
remeiros curvavam-se num esforço descomunal, avançavam lentamente. Um deles
acendeu uma lamparina na popa: a luz vermelha criava sombras fantásticas no
rio.
Lá no Ceará sucedeu um caso parecido… –
começou um sertanejo a contar.
- Mulher é enganadeira, a gente nunca
sabe que coisa mulher tá maginando… Conheci uma, parecia uma santa, ninguém podia
pensar… – lembrou o negro Fagundes.
Clemente ia silencioso. Melk Tavares
puxava conversa com os novos agregados, querendo saber de cada um as qualidades
e os defeitos de seus trabalhadores, seu passado.
Os sertanejos iam contando, as histórias
assemelhavam-se, a mesma terra árida queimada pela seca, o milheiral, o
mandiocal, perdidos a caminhada imensa. Eram sóbrios ao narrar. Chegavam por lá
notícias de ilhéus: a terra rica, o dinheiro fácil. Lavoura de futuro, barulhos
e mortes. Quando a seca batia, largavam tudo e rumavam para o sul. O negro
Fagundes era mais falador, contava valentias.
Eles também desejavam saber:
-
Diz que tem ainda muita mata para derrubar…
Pra derrubar tem muita. Pra medir é que
não tem mais. Tudo já tem dono. – riu um remeiro.
Mas ainda há dinheiro a ganhar, e muito,
para um homem trabalhador – consolou Melk Tavares.
(Click na imagem de Gabriela, "moça bonita")
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