CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 98
Finalmente o enterro saíu,
maior do que o de Osmundo mas também lastimável, o padre Basílio engrolando as
rezas, em prantos a família vinda de Olivença, suspirando aliviado o dono da
casa. Nacib voltou ao bar.
Porque não enterrar os dois
juntos, saindo os caixões na mesma hora, da mesma casa, para a mesma cova?
Assim deviam ter feito. Vida salafrária, cheia de hipocrisia, cidade sem
coração onde só o dinheiro contava.
- Seu Nacib, a empregada é um pirão. Que beleza!
– a voz mole de Chico.
- Vá pró inferno! – Nacib estava triste.
Soube depois que o caixão de
Sinhàzinha transpusera o portão do cemitério no mesmo momento em que se
retiravam os raros acompanhantes de Osmundo. Quase na mesma hora em que o
coronel Jesuíno Mendonça, assistido pelo Dr. Maurício Caíres, batia palmas na
porta do Juiz de Direito para se apresentar. Depois o advogado aparecera no
bar, recusando qualquer bebida além de água mineral:
- Ontem saí do sério em casa de Amâncio. Tinha
um vinho português de primeira…
Nacib afastou-se, não queria
ouvir o comentário do regabofe da véspera. Foi à casa das Irmãs dos Reis saber
como marchavam os preparativos do jantar e as encontrou ainda excitadas com o
crime.
- Ontem de manhã, ela estava na igreja, a
infeliz – disse Quinqui na a
benzer-se.
- Quando o senhor veio aqui ,
a gente tinha acabado de estar com ela, na missa – arrepiou-se Florzinha.
- Uma coisa dessas… Por isso não me caso.
Levaram-no à cozinha, onde
Jucundina e as filhas se desdobravam. “Não se afligisse com o jantar, tudo ia
bem”.
Por falar nisso, arranjei
cozinheira.
- Óptimo. É boa?
- Cuscuz sabe fazer. Comida vou saber daqui a pouco, na hora do almoço.
Não quer mais os tabuleiros?
- Ainda uns dias…
- É por causa do presépio… Muito trabalho.
Quando o movimento no bar se
acalmou, mandou Chico Moleza almoçar:
- Na volta traga minha marmita.
Na hora do almoço o bar
ficava vazio. Nacib fazia a caixa, calculava os lucros, media as despesas.
Invariavelmente, o primeiro a aparecer após o almoço era Tonico Bastos, tomava
um digestivo, cachaça com bitter.
Naquele dia falaram dos enterros, depois
Tonico contara os sucessos do cabaré, na véspera, após a partida do árabe. O
coronel Ribeirinho bebera tanto que tivera de ser levado para casa quase
carregado. Na escada vomitara três vezes, sujando a roupa toda.
- Tá de beiço caído pela dançarina…
- E Mundinho Falcão?
- Foi embora cedo. Me garantiu que não tem
nada com ela que a estrada estava livre. E aí, é claro…
- Você se atirou…
- Entrei com o meu jogo.
- E ela?
- Bem. Interessada ela está.
Mas enquanto não agarrar Ribeirinho vai bancar a santa. Percebi tudo.
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