segunda-feira, maio 07, 2012


GABRIELA
CRAVO
 E
 CANELA


Episódio Nº 91



Ary Santos contou do velório de Sinhàzinha, em casa de uns parentes: velório triste e pobre, meia dúzia de pessoas. Quanto ao de Osmundo nem valia a pena falar. Tinha horas que o corpo ficava sozinho com a empregada. Ele passara por lá, afinal conhecia o morto, privara com ele nas sessões do Grémio Rui Barbosa.

 - Daqui a pouco vou até lá… – disse o Capitão. Era bom rapaz e talento não lhe faltava. Versos supimpas…

 - Eu também vou, solidarizava-se Nhô-Galo.

Nacib fora com eles e mais alguns, por curiosidade, por volta das onze horas, quando o movimento diminua no bar. As faces sem sangue. Osmundo sorria na morte, Nacib ficou impressionado. As mãos cruzadas, lívidas.

 - Os tiros acertaram no peito. No coração.

Terminou indo mesmo ao cabaré, apreciar a dançarina, tirar da cabeça a visão do morto. Sentou-se numa mesa com Tonico Bastos. Dançavam em torno. Noutra sala, separada por um corredor, jogavam. O Dr. Ezequiel Prado, já bastante alto, veio sentar-se com eles. Apoiava o indicador no peito de Nacib:

 - Me disseram que você está enrabichado com aquela zarolha? – apontava Risoleta a dançar com um caixeiro viajante.

 - Enrabichado? Não. Tive com ela ontem, foi tudo.

 - Não gosto de me meter com xodó de amigos. Por isso perguntei. Mas se é assim… Ela é um pirãozinho, não é?

_ E Marta, Dr. Ezequiel?

 - Fez-se de besta, meti-lhe a mão. Não vou hoje lá.

Tomava o copo de Tonico, bebia de um trago. As brigas do advogado e da rapariga, uma loira por ele mantida há longos anos, eram constante prato da cidade, sucediam-se cada três dias. Quanto mais a surrava, bêbedo, mais ela se agarrava a ele, apaixonada, indo buscá-lo nos cabarés, nas de mulheres, tirando-o por vezes da cama de outra. A família do advogado vivia na Bahia, era separado da esposa.

Levantou-se, cambaleante, meteu-se no meio dos dançarinos, separou Risoleta do seu par. Tonico Bastos anunciou:

 - Vai haver barulho.

Mas o caixeiro-viajante conhecia o Dr. Ezequiel, sua fama, abandonou-lhe a mulher, procurou outra com os olhos. Risoleta resistia, Ezequiel segurou-lhe o pulso, tomou-a nos braços.

 - Perdeste a comida… – riu Tonico Bastos.

 - Um favor que ele me faz. Não quero nada com ela hoje, tou morto de cansado. Logo que a tal dançar dou o fora. Tive um dia de cão.

 - E a cozinheira?

- Terminei por arranjar uma, sertaneja.

 - Jovem?

 - Sei lá… Parece. Com tanta sujeira não dava para ver. Essa gente não tem idade, seu Tonico, mesmo as meninas parecem velhas.

 - Bonita?

 - Como vou saber? Uns mulambos, uma imundice, os cabelos duros de pó. Há-de ser uma bruxa, minha casa não é como a sua, onde empregada até parece moça de sociedade.
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