GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 91
Ary Santos contou do velório de
Sinhàzinha, em casa de uns parentes: velório triste e pobre, meia dúzia de
pessoas. Quanto ao de Osmundo nem valia a pena falar. Tinha horas que o corpo
ficava sozinho com a empregada. Ele passara por lá, afinal conhecia o morto,
privara com ele nas sessões do Grémio Rui Barbosa.
-
Daqui a pouco vou até lá… – disse o
Capitão. Era bom rapaz e talento não lhe faltava. Versos supimpas…
-
Eu também vou, solidarizava-se Nhô-Galo.
Nacib fora com eles e mais alguns, por
curiosidade, por volta das onze horas, quando o movimento diminua no bar. As
faces sem sangue. Osmundo sorria na morte, Nacib ficou impressionado. As mãos
cruzadas, lívidas.
-
Os tiros acertaram no peito. No coração.
Terminou indo mesmo ao cabaré, apreciar
a dançarina, tirar da cabeça a visão do morto. Sentou-se numa mesa com Tonico
Bastos. Dançavam em
torno. Noutra sala, separada por um corredor, jogavam. O Dr.
Ezequi el Prado, já bastante alto,
veio sentar-se com eles. Apoiava o indicador no peito de Nacib:
-
Me disseram que você está enrabichado com aquela zarolha? – apontava Risoleta a
dançar com um caixeiro viajante.
-
Enrabichado? Não. Tive com ela ontem, foi tudo.
-
Não gosto de me meter com xodó de amigos. Por isso perguntei. Mas se é assim…
Ela é um pirãozinho, não é?
_ E Marta, Dr. Ezequi el?
-
Fez-se de besta, meti-lhe a mão. Não vou hoje lá.
Tomava o copo de Tonico, bebia de um
trago. As brigas do advogado e da rapariga, uma loira por ele mantida há longos
anos, eram constante prato da cidade, sucediam-se cada três dias. Quanto mais a
surrava, bêbedo, mais ela se agarrava a ele, apaixonada, indo buscá-lo nos
cabarés, nas de mulheres, tirando-o por vezes da cama de outra. A família do
advogado vivia na Bahia, era separado da esposa.
Levantou-se, cambaleante, meteu-se no
meio dos dançarinos, separou Risoleta do seu par. Tonico Bastos anunciou:
-
Vai haver barulho.
Mas o caixeiro-viajante conhecia o Dr.
Ezequi el, sua fama, abandonou-lhe a
mulher, procurou outra com os olhos. Risoleta resistia, Ezequi el segurou-lhe o pulso, tomou-a nos braços.
-
Perdeste a comida… – riu Tonico Bastos.
-
Um favor que ele me faz. Não quero nada com ela hoje, tou morto de cansado.
Logo que a tal dançar dou o fora. Tive um dia de cão.
-
E a cozinheira?
- Terminei por arranjar uma, sertaneja.
-
Jovem?
-
Sei lá… Parece. Com tanta sujeira não dava para ver. Essa gente não tem idade,
seu Tonico, mesmo as meninas parecem velhas.
-
Bonita?
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