terça-feira, junho 05, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 116



Outros fazendeiros, especialmente os mais moços, cujos compromissos com o coronel Ramiro Bastos eram recentes, não traziam o selo do sangue derramado, concordavam com Mundinho Falcão na análise e nas soluções dos problemas e necessidades de Ilhéus: abertura de estradas, aplicação de parte da renda nos distritos do interior, em Água Preta, em Pirangi, no Rio do Braço, em Cachoeira do Sul, exigir dos ingleses a conclusão do ramal da Estrada de Ferro ligando Ilhéus a Itapira, cujas obras eternizavam-se.

 - Chega de praças e jardins… Precisamos de estradas. Influíam-se sobretudo com a perspectiva da exportação directa, a barra dragada e rectificada dando passagem aos grandes navios.

Cresceria a renda do município, Ilhéus seria uma verdadeira capital. Mais uns dias e entre eles estaria o estrangeiro…

Mas a verdade é que o tempo foi passando, semana após semana, um mês, outro mês, e o engenheiro não chegava. Arrefecia o entusiasmo dos fazendeiros, só Ribeirinho mantinha-se firme, discutindo nos bares, prometendo e ameaçando.

O Jornal do Sul, semanário dos Bastos, perguntava pelo «engenheiro fantasma, invenção de forasteiros ambiciosos e mal intencionados, cujo prestígio não passava de conversa de bar».

O próprio Capitão, alma de todo aquele movimento, por mais que o escondesse, andava nervoso, irritava-se no tabuleiro de gamão, perdia partidas.

O coronel Ramiro Bastos fora à Baía apesar dos amigos e filhos desaconselhassem a viagem, perigosa para a sua idade. Voltou uma semana depois, triunfante. Reuniu os correligionários em sua casa.

Amâncio Leal contava para quem quisesse ouvir, com sua voz macia, ter o Governador do Estado garantido ao coronel Ramiro não existir engenheiro nenhum designado pelo Ministério para a barra de Ilhéus. Aquele era um problema irremediável, já o Secretário de Viação do estado o estudara amplamente. Não tinha mesmo jeito, seria tempo perdido tentar resolvê-lo.

A solução estava em construir um novo porto para Ilhéus, no Malhado, fora da barra. Obra de enorme vulto, exigindo anos de estudos antes de pensar-se em iniciá-la.

Dependendo de milhões de contos de réis, da cooperação entre os poderes federal, estadual e municipal. Obra de tamanha magnitude, os estudos andavam lentamente, não podia ser de outra maneira. Estudos múltiplos, demorados e difíceis. Mas já tinham começado. O povo de Ilhéus devia pacientar um pouco…

O Jornal do Sul publicou um artigo sobre o futuro porto, elogiando o Governador e o coronel Ramiro. Quanto ao engenheiro, escrevia, «encalhara na barra para sempre…».

O Intendente, por sugestão de Ramiro, mandou ajardinar mais uma praça, ao lado do novo edifício do Banco do Brasil.

Amâncio Leal, toda a vez que encontrava o Capitão ou o Doutor, não deixava de perguntar-lhes, um sorriso de zombaria.

 - E o engenheiro, quando chega?

O Doutor respondia ríspido:

 - Ri melhor quem ri por último.

O Capitão acrescentava:

 - Você não perde por esperar.

 - Quanto tempo é para esperar?

Terminavam por beber juntos qualquer coisa. Amâncio exigia que eles pagassem:

 - Quando o engenheiro chegar, eu começo a pagar.
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