GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 116
Outros fazendeiros, especialmente os
mais moços, cujos compromissos com o coronel Ramiro Bastos eram recentes, não
traziam o selo do sangue derramado, concordavam com Mundinho Falcão na análise
e nas soluções dos problemas e necessidades de Ilhéus: abertura de estradas,
aplicação de parte da renda nos distritos do interior, em Água Preta, em
Pirangi, no Rio do Braço, em Cachoeira do Sul, exigir dos ingleses a conclusão
do ramal da Estrada de Ferro ligando Ilhéus a Itapira, cujas obras
eternizavam-se.
-
Chega de praças e jardins… Precisamos de estradas. Influíam-se sobretudo com a
perspectiva da exportação directa, a barra dragada e rectificada dando passagem
aos grandes navios.
Cresceria a renda do município, Ilhéus
seria uma verdadeira capital. Mais uns dias e entre eles estaria o estrangeiro…
Mas a verdade é que o tempo foi passando,
semana após semana, um mês, outro mês, e o engenheiro não chegava. Arrefecia o
entusiasmo dos fazendeiros, só Ribeirinho mantinha-se firme, discutindo nos
bares, prometendo e ameaçando.
O Jornal do Sul, semanário dos Bastos,
perguntava pelo «engenheiro fantasma, invenção de forasteiros ambiciosos e mal
intencionados, cujo prestígio não passava de conversa de bar».
O próprio Capitão, alma de todo aquele
movimento, por mais que o escondesse, andava nervoso, irritava-se no tabuleiro
de gamão, perdia partidas.
O coronel Ramiro Bastos fora à Baía
apesar dos amigos e filhos desaconselhassem a viagem, perigosa para a sua
idade. Voltou uma semana depois, triunfante. Reuniu os correligionários em sua
casa.
Amâncio Leal contava para quem qui sesse ouvir, com sua voz macia, ter o Governador
do Estado garantido ao coronel Ramiro não existir engenheiro nenhum designado
pelo Ministério para a barra de Ilhéus. Aquele era um problema irremediável, já
o Secretário de Viação do estado o estudara amplamente. Não tinha mesmo jeito,
seria tempo perdido tentar resolvê-lo.
A solução estava em construir um novo
porto para Ilhéus, no Malhado, fora da barra. Obra de enorme vulto, exigindo
anos de estudos antes de pensar-se em iniciá-la.
Dependendo de milhões de contos de réis,
da cooperação entre os poderes federal, estadual e municipal. Obra de tamanha
magnitude, os estudos andavam lentamente, não podia ser de outra maneira.
Estudos múltiplos, demorados e difíceis. Mas já tinham começado. O povo de
Ilhéus devia pacientar um pouco…
O Jornal do Sul publicou um artigo sobre
o futuro porto, elogiando o Governador e o coronel Ramiro. Quanto ao
engenheiro, escrevia, «encalhara na barra para sempre…».
O Intendente, por sugestão de Ramiro,
mandou ajardinar mais uma praça, ao lado do novo edifício do Banco do Brasil.
Amâncio Leal, toda a vez que encontrava
o Capitão ou o Doutor, não deixava de perguntar-lhes, um sorriso de zombaria.
-
E o engenheiro, quando chega?
O Doutor respondia ríspido:
-
Ri melhor quem ri por último.
O Capitão acrescentava:
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Você não perde por esperar.
-
Quanto tempo é para esperar?
Terminavam por beber juntos qualquer
coisa. Amâncio exigia que eles pagassem:
-
Quando o engenheiro chegar, eu começo a pagar.
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