quinta-feira, junho 07, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 118



 - Eu é que fui inoportuno… - ouvia passos de mulher andando no quarto.

 - E pergunte a Tonico se ele prefere loira ou morena…

Dias depois chegava o telegrama do Ministro anunciando o nome do engenheiro e a data do seu embarque para a Baía. Mundinho mandou chamar o Capitão, o coronel Ribeirinho, o Doutor. «Designado engenheiro Rómulo Vieira». O Capitão tomava do despacho, punha-se de pé:

 - Vou esfregá-lo nas ventas de Tonico e de Amâncio…

 - Vinte pacotes, ganhos sem esforço… - Ribeirinho erguia as mãos. Vamos fazer uma farra monumental no Bataclan.

Mundinho recolheu o telegrama, não deixou o Capitão levá-lo. Pediu-lhes mesmo para guardarem segredo ainda uns dias, era de muito mais efeito anunciar no jornal, quando o engenheiro já estivesse na Baía. No fundo temia nova ofensiva do Governador, novo recuo do Ministro. E só uma semana depois, quando o engenheiro, já na Baía, avisava sua chegada no próximo baiano.

Mundinho os convocara novamente, mostrou-lhes as cartas e telegramas trocados, aquela fora uma dura e difícil batalha contra o Governo do Estado. Ele não quisera alarmar os amigos, por isso não os pusera antes a par dos detalhes. Mas agora, quando haviam vencido, valia a pena conhecer toda a extensão e valor dessa vitória.

No bar Vesúvio, Ribeirinho mandou servir bebida a todo o mundo e o Capitão cujo bom humor reaparecera, elevou o seu cálice à saúde do «Dr. Rómulo Vieira, libertador da barra de Ilhéus».  A notícia circulou, saíu depois no jornal, vários fazendeiros voltavam a entusiasmar-se. Ribeirinho, o Capitão, o Doutor, citavam trechos de cartas. O Governo do Estado fizera tudo para impedir a vinda do engenheiro.

Jogara todo o seu prestígio, toda a sua força. O Governador, por causa do genro, se empenhara pessoalmente. E quem vencera? Ele, com o Estado na mão, chefe de governo, ou Mundinho Falcão, sem sair do seu escritório em Ilhéus?

Seu prestígio pessoal derrotara o Governo do Estado. Essa a verdade indiscutível. Os fazendeiros abanavam a cabeça, impressionados.

A recepção no porto foi festiva. Nacib, tendo acordado tarde, o que lhe sucedia agora frequentemente, não pôde comparecer. Mas soubera de tudo mal chegara ao bar da boca do Nhô-Galo.

Lá estiveram, na ponte, Mundinho Falcão e seus amigos, vários fazendeiros também e grande número de curiosos. Tanto se falara desse engenheiro que desejavam ver como ele era, havia-se tornado quase um ser sobrenatural. Até um fotógrafo aparecera, contratado por Clóvis Costa.

Juntou todo o mundo num grupo, com o engenheiro no centro, meteu a cabeça sob o pano preto, levou meia hora para bater o retrato. Infelizmente perdeu-se esse documento histórico: a chapa queira-se, o homem só sabia fotografar no seu atelier.

Quando vai começar? – quis saber Nacib.

 - Logo. Os estudos preliminares. Devo esperar meus ajudantes e os instrumentos necessários estão vindo num navio do Lloyd, directo.

 - E vai durar muito?

 - É difícil de prever. Mês e meio, dois meses, ainda não sei.

Site Meter