sexta-feira, junho 15, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 125

Estranho! – Não falavam do engenheiro. Comentavam a volta à cidade, inesperada, do coronel Jesuíno Mendonça, recolhido à sua fazenda desde o assassinato da esposa e do dentista. Ainda há pouco ele passara em frente à Intendência, entrara em casa do coronel Ramiro Bastos.

Contra esse regresso, por ele considerado ofensivo aos brios Ilheenses, clamava o advogado. João Fulgêncio ria:

 - Ora, Ezequiel, quando você já viu a gente daqui ofender-se com assassínios soltos na rua? Se todos os coronéis criminosos de morte tivessem que viver nas fazendas, as ruas de Ilhéus ficariam desertas, os cabarés e bares cerrariam suas portas, nosso amigo Nacib, aqui presente, ia ter prejuízo.

O advogado não concordava. Afinal, não concordar era a sua obrigação, fora contratado pelo pai de Osmundo para acusar Jesuíno no júri, o comerciante não confiava no promotor. Em casos de crime como aquele, mortes por adultério, a acusação não passava de simples formalidade.

O pai de Osmundo, abastado comerciante com poderosas relações na Baía, movimentara Ilhéus durante uma semana. Dois dias depois dos enterros saltara de um navio, envergando luto fechado.

Adorava aquele filho, o mais velho, cuja formatura recente fora motivo de grandes festas. Sua esposa estava inconsolável, entregue aos médicos. Ele vinha a Ilhéus disposto a todas as providências para não deixar o assassino sem castigo.

De tudo isso logo se soube na cidade, a figura dramática do pai enlutado comoveu muita gente. E ocorreu um facto curioso: no enterro de Osmundo não houvera quase ninguém, mal chegavam para as alças do caixão.

Uma das primeiras medidas do pai fora organizar uma visita ao túmulo do filho. Encomendara coroas num desparrame de flores, fizera vir um pastor protestante de Itabuna, saíra convidando todos aqueles que, por um ou por outro motivo, haviam mantido relações com Osmundo.

Até a casa das irmãs Dos Reis foi bater, de chapéu na mão, a dor estampada nos olhos secos. Quinquina, numa noite terrível de dor de dentes, de enlouquecer, fora socorrida pelo dentista.

Na sala, o comerciante contara às solteironas pedaços da infância de Osmundo, sua aplicação nos estudos, falara da pobre Mãe desfeita, perdida a alegria de viver, andando pela casa como uma demente.

Terminaram chorando os três e mais a velha empregada a escutar na porta do corredor. As Dos Reis mostraram-lhe o presépio, elogiavam o dentista:

 - Bom moço, tão delicado.

E não é que a romaria ao cemitério foi todo um sucesso, o oposto do enterro? Muita gente: comerciantes, o grémio Rui Barbosa em peso, directores do Clube Progresso, o professor Josué, vários outros. As irmãs Dos Reis lá estavam, muito empertigadas, cada uma com seu ramalhete de flores.

Haviam consultado o padre Basílio. Não seria pecado visitar o túmulo de um protestante?


- Pecado é não rezar pelos mortos… respondera o apressado sacerdote.


(Click na imagem da jovem emaranhada nas cordas "da vida")


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