GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 125
Estranho! – Não falavam do engenheiro.
Comentavam a volta à cidade, inesperada, do coronel Jesuíno Mendonça, recolhido
à sua fazenda desde o assassinato da esposa e do dentista. Ainda há pouco ele
passara em frente à Intendência, entrara em casa do coronel Ramiro Bastos.
Contra esse regresso, por ele
considerado ofensivo aos brios Ilheenses, clamava o advogado. João Fulgêncio
ria:
-
Ora, Ezequi el, quando você já viu a
gente daqui ofender-se com
assassínios soltos na rua? Se todos os coronéis criminosos de morte tivessem
que viver nas fazendas, as ruas de Ilhéus ficariam desertas, os cabarés e bares
cerrariam suas portas, nosso amigo Nacib, aqui
presente, ia ter prejuízo.
O advogado não concordava. Afinal, não
concordar era a sua obrigação, fora contratado pelo pai de Osmundo para acusar
Jesuíno no júri, o comerciante não confiava no promotor. Em casos de crime como
aquele, mortes por adultério, a acusação não passava de simples formalidade.
O pai de Osmundo, abastado comerciante
com poderosas relações na Baía, movimentara Ilhéus durante uma semana. Dois
dias depois dos enterros saltara de um navio, envergando luto fechado.
Adorava aquele filho, o mais velho, cuja
formatura recente fora motivo de grandes festas. Sua esposa estava
inconsolável, entregue aos médicos. Ele vinha a Ilhéus disposto a todas as
providências para não deixar o assassino sem castigo.
De tudo isso logo se soube na cidade, a
figura dramática do pai enlutado comoveu muita gente. E ocorreu um facto
curioso: no enterro de Osmundo não houvera quase ninguém, mal chegavam para as
alças do caixão.
Uma das primeiras medidas do pai fora
organizar uma visita ao túmulo do filho. Encomendara coroas num desparrame de
flores, fizera vir um pastor protestante de Itabuna, saíra convidando todos
aqueles que, por um ou por outro motivo, haviam mantido relações com Osmundo.
Até a casa das irmãs Dos Reis foi bater,
de chapéu na mão, a dor estampada nos olhos secos. Quinqui na,
numa noite terrível de dor de dentes, de enlouquecer, fora socorrida pelo
dentista.
Na sala, o comerciante contara às
solteironas pedaços da infância de Osmundo, sua aplicação nos estudos, falara
da pobre Mãe desfeita, perdida a alegria de viver, andando pela casa como uma
demente.
Terminaram chorando os três e mais a
velha empregada a escutar na porta do corredor. As Dos Reis mostraram-lhe o
presépio, elogiavam o dentista:
-
Bom moço, tão delicado.
E não é que a romaria ao cemitério foi
todo um sucesso, o oposto do enterro? Muita gente: comerciantes, o grémio Rui
Barbosa em peso, directores do Clube Progresso, o professor Josué, vários
outros. As irmãs Dos Reis lá estavam, muito empertigadas, cada uma com seu
ramalhete de flores.
Haviam consultado o padre Basílio. Não
seria pecado visitar o túmulo de um protestante?
- Pecado é não rezar pelos mortos… respondera o apressado sacerdote.
(Click na imagem da jovem emaranhada nas cordas "da vida")
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