CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 129
O fazendeiro coçou a cabeça
de cabelos mal penteados:
- Vim aqui
para lhe vender meu cacau, seu Mundinho, vendi bem vendido, estou contente. Tou
contente da conversa também, fiquei sabendo do pensar de vosmicê.
- Fitava o exportador. Voto com Ramiro há bem
vinte anos. Não precisei dele nos barulhos. Quando cheguei em Rio do Braço não
tinha ainda ninguém, os que apareceu depois era uns bunda-suja, corri com eles
sem precisar ajuda. Mas estou acostumado a votar com Ramiro, nunca me fez mal.
Uma vez que buliram comigo ele me deu razão.
Mundinho ia falar, um gesto
do coronel o impediu:
- Não prometo nada para vosmicê, só prometo
para cumprir. Mas a gente ainda volta a conversar. Isso, eu garanto a vosmicê.
Retirou-se deixando o
exportador irritado, a lastimar o tempo perdido, uma boa parte da tarde. Assim
disse ao Capitão, que apareceu momentos após a partida do senhor indiscutido de
Rio do Braço:
- Um velho imbecil a querer casar-me com uma
neta de Ramiro Bastos. Gastei meu latim inutilmente. «Não prometo nada mas
volto a conversar outra vez». – Imitava o acento cantado do fazendeiro.
- Disse que ia voltar? Excelente sinal –
animava-se o Capitão – Meu caro, você ainda não conhece os nossos coronéis. E,
sobretudo não conhece Altino Brandão. Não é homem de meias conversas. Teria lhe
dito na cara se sua lábia não o tivesse impressionado. E se ele nos apoiar…
Na Papelaria prolongava-se a
conversa. Clóvis Costa cada vez mais inqui eto:
passava das quatro horas e não apareciam os jornaleiros com o Diário de Ilhéus:
- Vou à redacção ver que diabo é isso.
Moças do Colégio das
Freiras, Malvina entre elas, interrompiam o disse-que-disse, folheavam livros
da «Biblioteca Cor-de-Rosa», João Fulgêncio as atendia.
Malvina corria com os olhos
a prateleira de livros, folheava romances de Eça, de Aloísio Azevedo. Iracema
aproximava-se, risinhos maliciosos:
- Lá em casa tem o crime do Padre Amaro.
Peguei para ler, meu irmão tomou, disse que não era leitura pra moça… - O irmão
era académico de Medicina na Baía.
- E porque ele pode ler e você não? –
Cintilaram os olhos de Malvina, aquela estranha luz rebelde.
- Tem o Crime do Padre Amaro, seu João?
- Tem, sim. Quer levar? Um grande romance…
- Vou levar, sim senhor. Quanto custa?
Iracema impressionava-se com
a coragem da amiga:
- Você vai comprar? O que não vão dizer?
- E que me importa?
Diva comprava um romance
para moças, prometia emprestar às demais. Iracema pedia a Malvina:
- Depois você me empresta? Mas não conta a
ninguém. Vou ler em sua casa mesmo.
- Essas moças de hoje… – comentou um dos
presentes. – Até livro imoral elas compram. É por isso que há casos como o de
Jesuíno.
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