CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 128
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Vosmicê tem muito merecimento… Tem outros que chega aqui ,
só visam ganhar dinheiro, não pensam em mais nada. Vosmicê pensa em tudo, nas
necessidades da terra. Pena vosmicê não ser casado.
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Porquê, coronel? – Tomava da garrafa, quase uma obra de arte, ia servir
novamente.
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Vosmicê me desculpe… Coisa fina essa bebida. Mas, para ser franco com vosmicê,
prefiro uma cachacinha… Esse trago é enganador: cheiroso, açucarado, parece até
bebida para mulher. E é forte como o cão, embebeda sem a gente se dar conta.
Cachaça, não, a gente sabe logo, não engana ninguém.
Mundinho tirou do armário uma garrafa de
cachaça.
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Como prefira, coronel. Mas porque eu devia ser casado?
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Pois, se vosmicê me consente, vou lhe dar um conselho: case com moça daqui , filha da gente. Não tou lhe oferecendo filha
minha; estão as três casadas e bem casadas, graças a Deus. Mas tem muita moça
prendada aqui e em Itabuna. Assim todo
o mudo vê que vosmicê não está aqui
de visita, só para se aproveitar.
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Casamento é coisa séria, coronel. Primeiro é preciso encontrar a mulher com
quem se sonha, o casamento nasce do amor.
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Ou da necessidade, não é? Nas roças, trabalhador casa até com toco de pau, se
vestir saia. Pra ter mulher em casa, com quem deitar, também pra conversar.
Mulher tem muita serventia, o senhor nem imagina. Ajuda até na política. Dá
filho pra gente, impõe respeito. Pró resto, tem as raparigas…
Mundinho ria:
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O senhor está querendo fazer-me pagar um preço muito alto pelas eleições. Se
depender de casar-me, temo estar desde já derrotado. Não quero ganhar assim,
coronel. Quero ganhar com o meu programa.
Falou-lhe então, como já o fizera com
tantos outros, sobre os problemas da região, apresentando soluções, rasgando
estradas e perspectivas, num entusiasmo contagiante.
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Vosmicê está coberto de razão. Tudo o que vosmicê disse é como as tábuas da
lei: verdade pura. Quem pode contradizer? – Agora fitava o chão, muitas vezes
sentira-se magoado contra o abandono em que vivia o interior, esquecido pelos
Bastos. – Se o povo daqui tiver
juízo, o senhor vai ganhar. Se o Governo lhe reconhece, não sei, isso já é
outra conversa…
Mundinho sorriu, pensando ter convencido
o coronel.
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Só que tem uma coisa: o senhor tem a razão, mas o coronel Ramiro tem as
amizades, fez benefício a muita gente, tem muito parente e compadre, todo mundo
está acostumado a votar com ele. Vosmicê me desculpe: porque vosmicê não faz um
arranjo com ele?
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Que arranjo, coronel?
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Se junta os dois? Vosmicê com a sua cabeça, seus olhos de ver, ele com o
prestígio, os eleitor. Ele tem uma neta bonita, vosmicê não conhece? A outra
ainda é muito menina… Filhas do Dr. Alfredo.
Mundinho enchia-se de paciência:
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Não se trata disso, coronel. Eu penso de uma forma, o senhor conhece minhas
ideias. O coronel Ramiro pensa de outra, para ele governar é apenas calçar rua
e ajardinar a cidade. Não vejo acordo possível. Eu estava lhe propondo um
programa de trabalho, de administração. Não é para mim que peço os seus votos,
é para Ilhéus, para o progresso da região do cacau.
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