GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 127
O coronel Brandão, do Rio do Braço… O
maior fazendeiro da zona depois do coronel Misael. Com ele votava todo o
distrito, era carta importante na vida política.
Clóvis Costa dizia a verdade. No
escritório de Mundinho, afundado na poltrona de couro, macia, o fazendeiro de
botas e esporas, saboreava um licor francês, servido pelo exportador.
-
Pois, seu Mundinho, esse ano é cacau de dar gosto. O que vosmicê precisa é de
aparecer lá na fazenda Passar uns dias com a gente. É casa de pobre, mas se
vosmicê qui ser dar a honra não vai
morrer de fome, graças a Deus.
Pra ver as roças carregadinhas, tudo
luzindo nos pés. Tou começando a colher… Dá alegria nos olhos ver essa fartura
de cacau.
O exportador batia na perna do fazendeiro:
Pois aceito seu convite. Vou passar um desses Domingos com o senhor…
-
Venha no sábado, Domingo os homens não trabalham. Volta na segunda-feira. Se qui ser, é claro, a casa é sua…
-
Trato feito, sábado lá estarei. Agora já posso sair um pouco, estava amarrado aqui com essa história da vinda do engenheiro.
Diz que o moço chegou, é mesmo verdade?
-
Verdade verdadeira, coronel. Amanhã já estará mexendo na barra. Prepare-se para
ver em breve o cacau de suas fazendas saindo directo, de Ilhéus para a Europa,
para os estados Unidos…
-
Sim senhor… Quem houvera de dizer… - Sorveu outro golo de licor, espiava
Mundinho com seus olhos sabidos. – De
primeira, essa cachaça, coisa fina. Não é daqui ,
pois não? – Mas sem esperar resposta continuou:
-
Diz que também vosmicê vai ser candidato nas eleições? Me contaram essa
novidade, fiquei sem acreditar.
E porque não, coronel? – Mundinho estava
contente por o velho ter entrado no assunto. Será que não tenho nenhuma
qualidade? Pensa assim tão mal de mim?
-
Eu? Pensar mal de vosmicê? Deus me livre e guarde. Vosmicê é mais que
merecedor. Só que… - Suspendia o cálice de licor, expondo-o ao sol. – Só que
vosmicê, com essa cachaça, não é daqui …
- Elevava os olhos para Mundinho para espiá-lo.
Aquele argumento não era novo, já se
acostumara. Rebatê-lo tornara-se num hábito, uma espécie de exercício
intelectual:
-
O senhor nasceu aqui , coronel?
-
Eu? Sou de Sergipe, sou «ladrão de cavalo», como dizem esses moleques daqui . – Examinava os reflexos do cristal ao sol. – Só
que faz mais de quarenta anos que arribei em Ilhéus.
Eu tenho somente quatro anos, quase
cinco. E sou tão grapiúna como o senhor. Daqui
não vou mais sair…
Desenvolvia sua argumentação, ia citando
de passagem todos os interesses a ligá-lo à zona, os variados empreendimentos
em que se metera ou que propiciara. Para terminar com o caso da barra, a vinda
do engenheiro.
( Não, esta imagem não é a da Gabriela... o casaco de peles não condiz)
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