segunda-feira, junho 18, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 127

O coronel Brandão, do Rio do Braço… O maior fazendeiro da zona depois do coronel Misael. Com ele votava todo o distrito, era carta importante na vida política.

Clóvis Costa dizia a verdade. No escritório de Mundinho, afundado na poltrona de couro, macia, o fazendeiro de botas e esporas, saboreava um licor francês, servido pelo exportador.

 - Pois, seu Mundinho, esse ano é cacau de dar gosto. O que vosmicê precisa é de aparecer lá na fazenda Passar uns dias com a gente. É casa de pobre, mas se vosmicê quiser dar a honra não vai morrer de fome, graças a Deus.

Pra ver as roças carregadinhas, tudo luzindo nos pés. Tou começando a colher… Dá alegria nos olhos ver essa fartura de cacau.

O exportador batia na perna do fazendeiro:

  Pois aceito seu convite. Vou passar um desses Domingos com o senhor…

 - Venha no sábado, Domingo os homens não trabalham. Volta na segunda-feira. Se quiser, é claro, a casa é sua…

 - Trato feito, sábado lá estarei. Agora já posso sair um pouco, estava amarrado aqui com essa história da vinda do engenheiro.

Diz que o moço chegou, é mesmo verdade?

 - Verdade verdadeira, coronel. Amanhã já estará mexendo na barra. Prepare-se para ver em breve o cacau de suas fazendas saindo directo, de Ilhéus para a Europa, para os estados Unidos…

 - Sim senhor… Quem houvera de dizer… - Sorveu outro golo de licor, espiava Mundinho  com seus olhos sabidos. – De primeira, essa cachaça, coisa fina. Não é daqui, pois não? – Mas sem esperar resposta continuou:

 - Diz que também vosmicê vai ser candidato nas eleições? Me contaram essa novidade, fiquei sem acreditar.

E porque não, coronel? – Mundinho estava contente por o velho ter entrado no assunto. Será que não tenho nenhuma qualidade? Pensa assim tão mal de mim?

 - Eu? Pensar mal de vosmicê? Deus me livre e guarde. Vosmicê é mais que merecedor. Só que… - Suspendia o cálice de licor, expondo-o ao sol. – Só que vosmicê, com essa cachaça, não é daqui… - Elevava os olhos para Mundinho para espiá-lo.

Aquele argumento não era novo, já se acostumara. Rebatê-lo tornara-se num hábito, uma espécie de exercício intelectual:

 - O senhor nasceu aqui, coronel?

 - Eu? Sou de Sergipe, sou «ladrão de cavalo», como dizem esses moleques daqui. – Examinava os reflexos do cristal ao sol. – Só que faz mais de quarenta anos que arribei em Ilhéus.

Eu tenho somente quatro anos, quase cinco. E sou tão grapiúna como o senhor. Daqui não vou mais sair…

Desenvolvia sua argumentação, ia citando de passagem todos os interesses a ligá-lo à zona, os variados empreendimentos em que se metera ou que propiciara. Para terminar com o caso da barra, a vinda do engenheiro.

O fazendeiro escutava, a preparar um cigarro de palha de milho e fumo de rolo, de quando em vez os olhos vivos a perscrutarem a face de Mundinho como a pesar a sua sinceridade.
( Não, esta imagem não é a da Gabriela... o casaco de peles não condiz) 

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