CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 132
Curiosos aglomeravam-se nas portas das
lojas, dos armazéns, andavam para o jornal. Amâncio e Jesuíno não se haviam
levantado sequer, a mesa em posição estratégica. A um tipo que se colocou na
porta, impedindo-lhe a visão, Amâncio solicitou, sua voz macia.
-
Saia de frente faz, favor…
Como o homem não ouviu, apertou-lhe o
braço:
-
Saia, já disse…
Depois do caminhão ter passado, Amâncio
suspendeu o copo de cerveja, sorriu para Jesuíno.
-
Operação limpeza…
-
Bem sucedida…
Continuaram no bar, sem dar importância
à curiosidade a cercá-los, gente parando no outro lado da rua para vê-los.
Diversas pessoas haviam reconhecido jagunços de Amâncio, de Jesuíno, de Melk
Tavares. E quem dirigira tudo, mandando os homens, fora um certo Loirinho,
afilhado de Amâncio, desordeiro profissional que vivia a fazer baderna em casa
de mulheres.
Clóvis Costa chegara quando as chamas
começavam a ser contidas. Sacou do revólver, postou-se heróico na porta da
redacção. Da mesa do bar, Amâncio comentou com desprezo:
-
Nem sabe segurar o revólver…
Começaram a acorrer os amigos,
improvisaram aquele comício. Durante o resto da tarde vieram personalidades
emprestar o seu apoio.
Mundinho apareceu com o capitão,
abraçava Clóvis Costa. O jornalista repetia:
-
São os ossos do ofício…
Naquela tarde quem parou sob a janela de
Glória, a satisfazer-lhe a fome de notícias, não foi o negrinho Tuísca,
extremamente ocupado a comandar o bando de moleques em frente à redacção. Foi o
professor Josué, perdida toda a prudência e respeitabilidade, a face mais pálida
que nunca, cobertos de crepe os olhos românticos, de luto o coração. Malvina
passeava com o engenheiro pela avenida, Rómulo apontava o mar, talvez a
informasse sobre a sua profissão. A moça ouvindo interessada, de quando em vez
a rir.
Nacib arrastara Josué até ao jornal, o
professor demorara apenas uns minutos, o que realmente lhe interessava eram os
acontecimentos da praia, a conversa de Malvina e do engenheiro.
Já as solteironas conversavam na porta
da igreja, em torno do padre Cecílio, comentando o incêndio. A risada de
Malvina ante o mar desinteressada de jornais queimados, acabou de enfurecer
Josué.
Afinal não era o engenheiro o
responsável? O recém-chegado nem se dignava interessar-se pela brusca agitação
da cidade, indiferente, a conversar com Malvina.
Josué atravessou a praça, passou entre
as solteironas, aproximou-se da janela de Glória, os lábios carnudos da mulata
abriram-se num sorriso.
Boa tarde.
(Clik na imagem. Em portugal estamos no Verão e a beira-mar é sempre um local agradável mas...cuidado com os escaldões na pele)
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