CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 117
Quis fazer dessas pilhérias com Ribeirinho, mas o
outro exaltou-se, gritando alto no bar:
- Não sou de
mesqui nharias. Quer apostar? Então
aposte dinheiro de verdade. Boto dez contos em como o engenheiro vem.
- Dez contos?
Boto vinte contra os seus dez e dou um ano de prazo. Ou quer mais? – a voz
suave, o olho mau.
Nacib e João Fulgêncio serviram de testemunhas.
O Capitão insistia junto a Mundinho para que fosse ao
Rio, apertar o Ministro. O exportador recusava-se. A safra se iniciara, não
podia largar seus negócios naquele momento. Viagem além de tudo desnecessária,
pois a vinda do engenheiro era certa, apenas retardara-se devido a detalhes
burocráticos. Não contava as dificuldades reais, o susto que passara ao saber,
por carta de amigo, ter o Ministro recuado da promessa feita ante o protesto do
Governador da Baía.
Mundinho jogou então todas as suas amizades, à
excepção da própria família, na solução do caso. Escreveu cartas, passou
quantidade de telegramas, pediu e prometeu. Um amigo seu falou com o Presidente
da República e, coisa que Mundinho jamais viria a saber, foi o prestígio de
Lourival e de Emílio o factor decisivo para resolver o impasse. Ao saber do
nome do autor do pedido o seu parentesco com os influentes políticos paulistas,
o presidente dissera ao Ministro:
- Afinal é um
pedido justo. O Governador está no fim do mandato, brigado com muita gente, nem
sei se fará o sucessor. Não devemos nos curvar sempre à vontade dos estaduais…
Mundinho vivera dias de temor, quase de pânico. Se
perdesse aquela partida, não tinha outra coisa a fazer se não arrumar sua
bagagem, ir-se embora de Ilhéus.
A não ser que qui sesse
viver desmoralizado, objecto de dichotes e pilhérias. Voltar cabisbaixo,
fracassado, para assombro dos irmãos… Quase deixara de aparecer nos bares, nos
cafés, onde a maledicência crescia.
O próprio Tonico Bastos, muito discreto, evitando, o
quanto podia, tocar naquele assunto diante dos partidários de Mundinho, já não
se continha, gozava o mau humor dos adversários. Certa vez houve um bata-boca
entre ele e o Capitão, teve João Fulgêncio que intervir para evitar um corte de
relações. Tonico propusera, enquanto bebiam e conversavam:
- Porque, em
vez do engenheiro, Mundinho não traz outra dançarina? Custa menos trabalho e
serve aos amigos…
Naquela mesma noite, o Capitão aparecera, sem avisar,
em casa do exportador. Mundinho o recebera contrafeito:
- Você vai me
desculpar, Capitão, tenho gente em
casa. Uma jovem que veio da Baia, chegou no navio de hoje.
Para me distrair dos negócios…
- Só lhe ocupo
um minuto – Aquela história da rapariga mandada vir da baia irritava o Capitão.
– Sabe o que dizia hoje Tonico Bastos, no bar? Que você só servia mesmo para
trazer mulheres para Ilhéus. Mulheres e nada mais… Engenheiro, isso não.
Tem graça. -
Mundinho ria. – Mas não se aflija…
- Como não vou
me afligir? O tempo está passando, a vinda do engenheiro…
- Já sei tudo o
que você vai me dizer, Capitão. Você pensa que sou um imbecil, que estou de braços
cruzados?
- Porque você
não se dirige aos seus irmãos? Têm força…
- Isso nunca.
Nem é preciso. Hoje mandei um verdadeiro ultimato. Vá descansado e desculpe o
recebimento.
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