quarta-feira, junho 06, 2012


GABRIELA
CRAVO
CANELA

Episódio Nº 117


Quis fazer dessas pilhérias com Ribeirinho, mas o outro exaltou-se, gritando alto no bar:

 - Não sou de mesquinharias. Quer apostar? Então aposte dinheiro de verdade. Boto dez contos em como o engenheiro vem.

 - Dez contos? Boto vinte contra os seus dez e dou um ano de prazo. Ou quer mais? – a voz suave, o olho mau.

Nacib e João Fulgêncio serviram de testemunhas.

O Capitão insistia junto a Mundinho para que fosse ao Rio, apertar o Ministro. O exportador recusava-se. A safra se iniciara, não podia largar seus negócios naquele momento. Viagem além de tudo desnecessária, pois a vinda do engenheiro era certa, apenas retardara-se devido a detalhes burocráticos. Não contava as dificuldades reais, o susto que passara ao saber, por carta de amigo, ter o Ministro recuado da promessa feita ante o protesto do Governador da Baía.

Mundinho jogou então todas as suas amizades, à excepção da própria família, na solução do caso. Escreveu cartas, passou quantidade de telegramas, pediu e prometeu. Um amigo seu falou com o Presidente da República e, coisa que Mundinho jamais viria a saber, foi o prestígio de Lourival e de Emílio o factor decisivo para resolver o impasse. Ao saber do nome do autor do pedido o seu parentesco com os influentes políticos paulistas, o presidente dissera ao Ministro:

 - Afinal é um pedido justo. O Governador está no fim do mandato, brigado com muita gente, nem sei se fará o sucessor. Não devemos nos curvar sempre à vontade dos estaduais…

Mundinho vivera dias de temor, quase de pânico. Se perdesse aquela partida, não tinha outra coisa a fazer se não arrumar sua bagagem, ir-se embora de Ilhéus.

A não ser que quisesse viver desmoralizado, objecto de dichotes e pilhérias. Voltar cabisbaixo, fracassado, para assombro dos irmãos… Quase deixara de aparecer nos bares, nos cafés, onde a maledicência crescia.

O próprio Tonico Bastos, muito discreto, evitando, o quanto podia, tocar naquele assunto diante dos partidários de Mundinho, já não se continha, gozava o mau humor dos adversários. Certa vez houve um bata-boca entre ele e o Capitão, teve João Fulgêncio que intervir para evitar um corte de relações. Tonico propusera, enquanto bebiam e conversavam:

 - Porque, em vez do engenheiro, Mundinho não traz outra dançarina? Custa menos trabalho e serve aos amigos…

Naquela mesma noite, o Capitão aparecera, sem avisar, em casa do exportador. Mundinho o recebera contrafeito:

 - Você vai me desculpar, Capitão, tenho gente em casa. Uma jovem que veio da Baia, chegou no navio de hoje. Para me distrair dos negócios…

 - Só lhe ocupo um minuto – Aquela história da rapariga mandada vir da baia irritava o Capitão. – Sabe o que dizia hoje Tonico Bastos, no bar? Que você só servia mesmo para trazer mulheres para Ilhéus. Mulheres e nada mais… Engenheiro, isso não.

Tem graça. -  Mundinho ria. – Mas não se aflija…

 - Como não vou me afligir? O tempo está passando, a vinda do engenheiro…

 - Já sei tudo o que você vai me dizer, Capitão. Você pensa que sou um imbecil, que estou de braços cruzados?

 - Porque você não se dirige aos seus irmãos? Têm força…

 - Isso nunca. Nem é preciso. Hoje mandei um verdadeiro ultimato. Vá descansado e desculpe o recebimento.


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