quinta-feira, julho 05, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 141


Não estou me queixando. Sou homem de luta, não tenho medo. Esse senhor Mundinho pensa que Ilhéus começou quando ele desembarcou aqui. Quer tapar o dia de ontem, isso ninguém pode fazer. Vai amargar uma derrota, vai me pagar caro essa patifaria… Venço ele nas eleições, depois boto para fora de Ilhéus. E ninguém vai me impedir.

 - Nisso, coronel, não me meto. Tudo o que desejo é resolver o caso da Associação. Porque envolvê-la nessas disputas? Afinal a Associação é coisa à toa, só cuida de negócios, dos interesses do comércio. Se passar a servir causa política, vai por água abaixo. Porque gastar forças agora com essa besteira?

 - Qual é a sua proposta?
Explicou, o coronel Ramiro Bastos ouvia, o queixo apoiado na bengala, o fino rosto rugoso bem barbeado, um resto de cólera a cintilar nos olhos.

 - Pois bem, não quero que digam que arruinei a Associação. E o senhor me merece muito. Vá descansado, eu mesmo explico ao compadre Maluf. Ficam os dois  iguaizinhos, não tem negócio de primeiro e segundo vice-presidente?

 - Iguaizinhos. Obrigado, coronel.

 - Já conversou com esse Sr. Mundinho?

 - Ainda não. Primeiro quis ouvir o senhor, agora vou falar com ele.

 - É capaz de não aceitar.

 - O senhor, que é o senhor, aceitou, porque ele vai recusar?

O coronel Ramiro Bastos sorriu, era ele o primeiro. Assim viu-se eleito Nacib quarto secretário da Associação Comercial de Ilhéus, companheiro de Ataulfo, Mundinho, Maluf, do joalheiro Pimenta, de outros tipos importantes, inclusive do Doutor Maurício e do Capitão.

Quase dera mais trabalho a Ataulfo Passos resolver o problema do orador oficial que todo o resto. Muito custou a convencer o Capitão a conformar-se com o cargo de bibliotecário, o último da lista. Mas já não era ele o orador oficial da Euterpe 13 de Maio? Dr. Maurício não era orador de nenhuma sociedade. Além disso, com a substanciosa verba votada para biblioteca, quem senão o Capitão com suficiente competência para escolher e adquirir os livros?

Aquela seria, na realidade, a biblioteca pública de Ilhéus onde moços e velhos viriam ler e instruir-se, aberta a toda a população.

 - Bondade sua. Tem João Fulgêncio, tem o Doutor. Elementos óptimos…

Mas não são candidatos. O Doutor nem é sócio da Associação, o nosso caro João não aceita cargos… Só mesmo você, senão quem iríamos botar? Orador, o maior da cidade, você é de qualquer maneira.

 A festa da instalação da sede e de posse da nova direcção foi digna de ver-se e comentar-se. À tarde, com champanhe e discursos na grande sala, ocupando todo o andar térreo, onde deveria funcionar a biblioteca, realizarem-se reuniões e conferências (no segundo andar ficavam os diversos serviços e a secretaria), empossaram-se os novos directores.

Nacib mandara fazer roupa nova, especialmente para o acto. Flamante gravata, sapatos lustrosos, um solitário no dedo, até parecia coronel dono de fazendas.
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