terça-feira, julho 10, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 145



Tonico gaguejou apresentações, logo dominou-se, homem do mundo. Trocaram umas palavras amáveis. Mundinho perguntou à jovem:

 - Dança?

Respondeu com um breve aceno de cabeça, sorridente.
 Saíram dançando. Foi tanta a emoção na sala que certos pares perderam o passo, voltados a olhar. Cresceu o cochicho, desceu gente do andar de cima para ver das senhoras.

- Então é o senhor o bicho papão? Não parece…

Mundinho riu:

 - Sou um simples exportador de cacau.

Era a vez da moça rir; a conversa continuou.

A outra sensação foi Anabela. Ideia de João Fulgêncio que jamais a vira dançar, não frequentava os cabarés.

À meia noite, quando a festa ia mais animada, apagaram-se todas as luzes, ficou a sala na penumbra, Ataúlfo Passos anunciou:

 - A bailarina Anabela, conhecida artista carioca. Para moças e senhoras a aplaudir entusiastas, ela dançou com as plumas e com os véus. Ribeirinho, ao lado da esposa triunfava. Os homens presentes sabiam pertencer-lhe aquele corpo delgado e ágil, para ele dançava sem malha, plumas e sem véus.

O Doutor, solene, deixava tombar a afirmação:

 - Civiliza-se Ilhéus a passos de gigante. Ainda há poucos meses a arte estava expulsa dos salões. Essa talentosa Terpsícore era relegada aos cabarés, exilava-se a arte nas sarjetas.

A Associação Comercial retirava a arte das sarjetas, trazia-a para o seio das melhores famílias. Estrugiam aplausos.


 Dos velhos métodos

Mundinho Falcão cumprira finalmente a promessa feita ao coronel Altino, fora visitar suas fazendas. Não no sábado marcado. Mais de um mês depois e por insistência do Capitão.

O colector emprestava grande importância à conquista de Altino, dizendo que, se o ganhassem, obteriam a adesão de vários fazendeiros, vacilantes mesmo depois após o começo dos estudos da barra.

Não há dúvida ter sido a chegada do engenheiro – derrota do governo do Estado – , um impacto, um tento lavrado por Mundinho. A própria reacção dos Bastos, violenta, queimando uma edição do Diário de Ilhéus, vinha prová-lo.

Nos dias que se seguiram, alguns coronéis apareceram no escritório da casa exportadora para solidarizarem-se com Mundinho, oferecer-lhe seus votos. O Capitão alinhava algarismos numa coluna, somava votos no papel. Conhecendo os hábitos políticos imperantes, sabia não lhe adiantar uma vitória apertada.

O reconhecimento, fosse dos deputados, na Câmara Federal ou na Estadual, fosse do Intendente e dos  conselheiros municipais, só poderia acontecer com vitória brutal, esmagadora.
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