CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 145
Tonico gaguejou apresentações, logo
dominou-se, homem do mundo. Trocaram umas palavras amáveis. Mundinho perguntou
à jovem:
-
Dança?
Respondeu com um breve aceno de cabeça,
sorridente.
Saíram dançando. Foi tanta a emoção na sala
que certos pares perderam o passo, voltados a olhar. Cresceu o cochicho, desceu
gente do andar de cima para ver das senhoras.
- Então é o senhor o bicho papão? Não
parece…
Mundinho riu:
-
Sou um simples exportador de cacau.
Era a vez da moça rir; a conversa
continuou.
A outra sensação foi Anabela. Ideia de
João Fulgêncio que jamais a vira dançar, não frequentava os cabarés.
À meia noite, quando a festa ia mais
animada, apagaram-se todas as luzes, ficou a sala na penumbra, Ataúlfo Passos
anunciou:
-
A bailarina Anabela, conhecida artista carioca. Para moças e senhoras a
aplaudir entusiastas, ela dançou com as plumas e com os véus. Ribeirinho, ao
lado da esposa triunfava. Os homens presentes sabiam pertencer-lhe aquele corpo
delgado e ágil, para ele dançava sem malha, plumas e sem véus.
O Doutor, solene, deixava tombar a
afirmação:
-
Civiliza-se Ilhéus a passos de gigante. Ainda há poucos meses a arte estava
expulsa dos salões. Essa talentosa Terpsícore era relegada aos cabarés,
exilava-se a arte nas sarjetas.
A Associação Comercial retirava a arte
das sarjetas, trazia-a para o seio das melhores famílias. Estrugiam aplausos.
Dos velhos métodos
Mundinho Falcão cumprira finalmente a
promessa feita ao coronel Altino, fora visitar suas fazendas. Não no sábado
marcado. Mais de um mês depois e por insistência do Capitão.
O colector emprestava grande importância
à conqui sta de Altino, dizendo que,
se o ganhassem, obteriam a adesão de vários fazendeiros, vacilantes mesmo
depois após o começo dos estudos da barra.
Não há dúvida ter sido a chegada do
engenheiro – derrota do governo do Estado – , um impacto, um tento lavrado por
Mundinho. A própria reacção dos Bastos, violenta, queimando uma edição do
Diário de Ilhéus, vinha prová-lo.
Nos dias que se seguiram, alguns
coronéis apareceram no escritório da casa exportadora para solidarizarem-se com
Mundinho, oferecer-lhe seus votos. O Capitão alinhava algarismos numa coluna,
somava votos no papel. Conhecendo os hábitos políticos imperantes, sabia não
lhe adiantar uma vitória apertada.
O reconhecimento, fosse dos deputados,
na Câmara Federal ou na Estadual, fosse do Intendente e dos conselheiros municipais, só poderia acontecer
com vitória brutal, esmagadora.
(Click na imagem para ver em mais detalhe a fada da floresta... )
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