sexta-feira, julho 13, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 148


Ora por isso não… Vosmicê tem amigos, gente decidida como Ribeirinho. Eu mesmo preveni uns homens, pensando: quem sabe seu Mundinho vai precisar, manda-me pedir emprestado…

Sobre política fora tudo o que conversara. Mundinho não sabia que pensar. Tinha a impressão que o coronel o tratava como uma criança, se divertia com ele.

Na noite da roça, Mundinho procurara conduzir a conversa para a política, Altino não respondia falava de cacau. Voltaram para o Rio do Braço, após um almoço delicioso: carne de caças diversas, cotias, pacas, veados e uma mais gostosa de todas. Mundinho soube depois ser carne de macaco jupará.

No povoado houve um jantar de estrondo, com fazendeiros, comerciantes, o médico, o farmacêutico, o padre, quantos possuíam alguma importância na localidade. Altino fizera vir tocadores de harmónica e violão, improvisadores de desafios, tinha um cego assombroso na rima.

O farmacêutico perguntara certa hora a Mundinho como ia a política. Nem teve tempo de responder, Altino atalhara brusco.

 - Seu Mundinho veio aqui visitar, não veio politicar – e falou de outra coisa.

Na segunda-feira, o exportador voltou, que diabo queria esse coronel Altino Brandão? Viera ele próprio lhe vender seu cacau, mais de vinte mil arrobas, abandonando Steveson.

Para Mundinho era um negócio de primeira. Não tinha o coronel maiores compromissos com os Bastos e, no entanto, nem queria ouvir falar de política. Ou ele Mundinho não entendia nada ou o velho era maluco. A querer que ele tocasse fogo em prédios, empastelasse máquinas, matasse gente talvez.

O Capitão afirmava que ele não compreendia os coronéis, sua maneira de ser, de agir. Sobre aquela ideia de vingar no Jornal do Sul o incêndio idiota dos exemplares do Diário de Ilhéus, o Capitão dissera pensativo:

 - Ele não deixa de ter razão. Também pensei nisso. A verdade é que essa gente dos Bastos precisa de uma lição. Alguma coisa que mostre ao povo daqui que eles não são mais os donos da terra, como antigamente. Tenho pensado muito nisso. Até já conversei com Ribeirinho.

 - Cuidado Capitão, não vamos fazer besteira. Às violências vamos responder com os rebocadores, as dragas para a barra.

 - Afinal, quando é que esse engenheiro vai concluir os estudos, mandar vir as dragas? Nunca vi demorar tanto…

 - Não é coisa fácil, de poucos dias. Ele está trabalhando o dia inteiro. Não perde um minuto. Mais rápido não pode ser.

 - Trabalha dia e noite – riu o Capitão – De dia na barra, de noite no portão de Melk Tavares. Se enrabichou com a filha dele, é um namoro agarrado…

 - O rapaz tem que se divertir…

Mais ou menos uma semana depois da visita a Rio do Braço, Mundinho, saindo do Clube Progresso, de uma reunião de directoria, avistou o coronel Altino, de costas, nas proximidades da casa de Ramiro Bastos.
(click na imagem. Quando o vício da pesca é muito não interessa o tamanho do barco nem mesmo o barco...)


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