(Richard Dawkins)
A Religião como Subproduto
de Outra Coisa
De qualquer modo, quero
deixar de parte a Selecção de Grupo e centrar-me na minha própria visão do
valor de sobrevivência da religião encarada numa perspectiva darwiniana. Faço
parte do número crescente de biólogos que vêm a religião com um “subproduto” de
outra coisa.
De um modo geral, julgo que
nós que especulamos acerca do valor da sobrevivência darwiniana precisamos de
“pensar subproduto”. Quando perguntamos sobre o valor de sobrevivência de
qualquer coisa, podemos estar a fazer a pergunta errada. Temos de reescreve-la
de uma forma mais útil.
Talvez a característica em
que estamos interessados (a religião, neste caso) não tenha um valor de
sobrevivência próprio mas seja antes um subproduto de outra coisa qualquer que
o tinha.
Acho útil apresentar aqui a ideia do subproduto através de uma analogia da
minha área do comportamento animal. – «(Richard Dawkins é doutorado em Etologia
– Ciência que estuda o comportamento animal – Prémio Nobel em 1975)».
As traças voam em direcção à
chama de uma vela e isso não acontece por acaso. Fazem propositadamente desvios
no voo para se oferecerem em sacrifício à chama. Podemos designar isto como
comportamento de “auto-imolação” e perguntar-nos a nós próprios, como é que a
selecção natural pode favorecer um comportamento destes.
O que eu quero dizer que
temos de fazer é reformular a pergunta antes de arriscar a resposta. Não se
trata de suicídio.
O suicídio, aparente, surge
como um efeito secundário, involuntário ou um subproduto de outra coisa mas, …
um subproduto de quê?
Bem, eis a possibilidade de
me fazer entender: a chegada da luz artificial às nossas noites é recente, o
próprio homem é recente. Até há bem pouco tempo, a única iluminação nocturna
era dada pela lua e pelas estrelas cuja origem está no infinito óptico pelo
que, os raios que dela nos chegam, são paralelos. Isto permite que sejam usadas
como bússolas.
Ora, sabe-se que os insectos
usam objectos celestes, tais como o sol e a lua, para se deslocarem em linha
recta com precisão, e que sabem servir-se da mesmo bússola, mas com sinal
contrário, para voltarem para casa após uma saída. O sistema nervoso do insecto
é perito em estabelecer regras muito básicas: “seguir numa direcção em que os
raios de luz incidam no olho fazendo um ângulo de 30 graus”. Uma vez que os
insectos têm olhos compostos formados por canais rectilíneos que funcionam como
guias para a luz mantendo esta a incidir num desses canais.
Mas para que a bússola de
luz funcione é vital que o objecto celeste esteja no infinito óptico porque, se
não estiver, os raios em vez de paralelos divergem como os de uma roda, fazendo
desviar a traça até à chama numa trajectória em espiral.
Em resumo, o sistema de orientação
da traça é um bom método desde que, no seu horizonte não lhe ponham velas em
vez da lua.
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