quinta-feira, agosto 30, 2012


As Raízes da Religião (Parte V)
(Richard Dawkins)


A Religião como Subproduto de Outra Coisa


De qualquer modo, quero deixar de parte a Selecção de Grupo e centrar-me na minha própria visão do valor de sobrevivência da religião encarada numa perspectiva darwiniana. Faço parte do número crescente de biólogos que vêm a religião com um “subproduto” de outra coisa.

De um modo geral, julgo que nós que especulamos acerca do valor da sobrevivência darwiniana precisamos de “pensar subproduto”. Quando perguntamos sobre o valor de sobrevivência de qualquer coisa, podemos estar a fazer a pergunta errada. Temos de reescreve-la de uma forma mais útil.

Talvez a característica em que estamos interessados (a religião, neste caso) não tenha um valor de sobrevivência próprio mas seja antes um subproduto de outra coisa qualquer que o tinha.

Acho útil apresentar aqui a ideia do subproduto através de uma analogia da minha área do comportamento animal. – «(Richard Dawkins é doutorado em Etologia – Ciência que estuda o comportamento animal – Prémio Nobel em 1975)».

As traças voam em direcção à chama de uma vela e isso não acontece por acaso. Fazem propositadamente desvios no voo para se oferecerem em sacrifício à chama. Podemos designar isto como comportamento de “auto-imolação” e perguntar-nos a nós próprios, como é que a selecção natural pode favorecer um comportamento destes.

O que eu quero dizer que temos de fazer é reformular a pergunta antes de arriscar a resposta. Não se trata de suicídio.

O suicídio, aparente, surge como um efeito secundário, involuntário ou um subproduto de outra coisa mas, … um subproduto de quê?

Bem, eis a possibilidade de me fazer entender: a chegada da luz artificial às nossas noites é recente, o próprio homem é recente. Até há bem pouco tempo, a única iluminação nocturna era dada pela lua e pelas estrelas cuja origem está no infinito óptico pelo que, os raios que dela nos chegam, são paralelos. Isto permite que sejam usadas como bússolas.

Ora, sabe-se que os insectos usam objectos celestes, tais como o sol e a lua, para se deslocarem em linha recta com precisão, e que sabem servir-se da mesmo bússola, mas com sinal contrário, para voltarem para casa após uma saída. O sistema nervoso do insecto é perito em estabelecer regras muito básicas: “seguir numa direcção em que os raios de luz incidam no olho fazendo um ângulo de 30 graus”. Uma vez que os insectos têm olhos compostos formados por canais rectilíneos que funcionam como guias para a luz mantendo esta a incidir num desses canais.

Mas para que a bússola de luz funcione é vital que o objecto celeste esteja no infinito óptico porque, se não estiver, os raios em vez de paralelos divergem como os de uma roda, fazendo desviar a traça até à chama numa trajectória em espiral.

Em resumo, o sistema de orientação da traça é um bom método desde que, no seu horizonte não lhe ponham velas em vez da lua.


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