quinta-feira, agosto 16, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 168

Mundinho afastara-se dela apenas sentiu o seu interesse. Malvina sofreu, era apenas uma esperança gorada. Josué fazia-se impossível, exigente e mandão. Foi quando Rómulo chegou e atravessou a praça de malha de banho, cortou as ondas em braçadas largas. Esse sim, pensava de outro modo. Fora infeliz, a mulher louca. Falava-lhe do Rio, que importava casamento, simples convenção?

Ela poderia trabalhar, ajudá-lo, ser amante e secretária, cursar faculdade se bem entendesse, fazer-se independente, só o amor a ligá-los. Ah!, como viveu ardentemente esses meses… Sabia que a cidade toda comentava, que no colégio não se falava de outra coisa, algumas amigas afastavam-se delas. Iracema fora a primeira. Que lhe importava?

Encontrava-se com ele na avenida da praia, inesquecíveis conversas. Nas matines do cinema beijavam-se com fúria, ele dizia ter renascido ao conhecê-la.

Melk na roça, certas noites Malvina viera – viera a casa a dormir – encontrá-lo nos rochedos. Sentavam-se na cadeira cavada na pedra, as mãos do engenheiro percorriam o seu corpo. Ele sussurrava pedidos, a respiração arfante. Porque não seria logo, ali mesmo na praia? Malvina queria ir embora de Ilhéus. Quando partissem seria dele. Faziam planos de fuga.

No quarto, espancada e presa, leu no jornal da Baía: “Um escândalo abalou a alta sociedade de Itália. A princesa Alexandra, filha da Infanta Dª Beatriz da Espanha e do Príncipe Vitorio, saíu da casa dos pais e foi viver sòzinha indo trabalhar como caixeira numa casa de modas.

Isso porque seu pai queria que ela casasse com o rico duque Humberto Visconti de Mondrome, de Milão, e ela está apaixonada pelo plebeu Franco Martini, industrial”.

Parecia escrito para ela. Com um toco de lápis, no papel da beira do jornal, redigiu o bilhete para Rómulo marcando o encontro.

A empregada levou ao hotel, entregara em mão própria. Naquela noite, se ele quisesse, seria dele. Porque agora definitivamente decidida: iria dali, iria viver.

A única preocupação a contê-lo – só naquele dia se dera conta – era evitar que o pai sofresse! Agora já não lhe importava.

Sentada na pedra húmida, os pés sobre o abismo, Malvina espera. Na praia escondida gemem casais. Salta o fogo-fátua nas grimpas. Todo um plano formado, estudado em cada detalhe, Malvina, impaciente, espera. As ondas rebentam em baixo, a espuma voa.

Porque ele não vinha? Deveria ter chegado antes dela, no bilhete, Malvina marcara hora certa. Porque não vinha?

No Hotel Coelho, a porta trancada, o sono impossível, Rómulo Vieira, competente engenheiro do Ministério de Viação e Obras Públicas, treme de medo. Sempre fora idiota em se tratando de mulheres. Metia-se em encrencas, dava-se mal, não se emendava. Vivia a namorar moças solteiras, já no Rio escapara por pouco da fúria dos irmãos violentos de uma Antonieta com quem andou se confrontando. Juntaram-se os quatro para lhe dar uma lição, por isso aceitara vir para Ilhéus. Jurando nunca mais olhar sequer para jovens casadoiras. Essa comissão em Ilhéus era uma verdadeira mamata. Estava juntando dinheiro e, além disso, Mundinho Falcão lhe garantira uma boa bolada se ele andasse depressa e concluísse o relatório reclamando urgente envio de dragas.
(Click na imagem. Não há como tapar a beleza e muito menos com uma pena) 

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