HOJE É DOMINGO
(Da Minha Cidade de Santarém)
Parece que a crise e as dificuldades nos
estão a empurrar para um acréscimo de religiosidade fazendo acorrer mais
pessoas aos centros de peregrinação a solicitarem protecção e auxílio divino. É
uma repetição do que sempre se passou em outras épocas de crise e dificuldades.
São situações dramáticas aquelas em que
as pessoas caíram, aqui , em Portugal, mas também na Grécia e na Espanha, países onde os níveis de desemprego atingiram valores mais
altos. Todos nós somos capazes de viver com menos dinheiro mas não sem dinheiro
algum. Chegados a este ponto resta o apoio da família e o das Instituições de Solidariedade.
O desemprego é uma doença social em que
o gérmen é o próprio homem com as suas decisões ao nível da governação dos países
e da administração, controle e regulamentação da actividade económica e
financeira.
O desemprego é daqueles males em que
mais nitidamente se percebe “a mão” do homem e menos cabimento tem o recurso às
peregrinações aos locais de fé.
No caso de certas maleitas, todos nós sabemos que uma forte intervenção do nosso psiqui smo
através de um sentimento de fé muito profundo permite ao nosso corpo operar
autênticos “milagres” mas, o desemprego, não é um mal do corpo é da sociedade
e, desta vez, de uma sociedade muito alargada que atinge, principalmente, certos países na Europa mas diz respeito a todo o continente e afectará todo o mundo civilizado.
Mas no seu desespero, o recurso à
intervenção divina é ainda em certos sectores mais crentes da população, o último
recurso.
Quando tudo corre bem deixa-se para lá a
fé e a crença mas quando a crise aperta, “ai Jesus quem me ajuda…”.
Se tudo está bem é porque Deus nos ajuda, sinal
que está atento aos nossos problemas e não são precisas grandes lamentações…o
trivial das orações, quando é.
A relação com a crença religiosa tem
destas coisas, traduzida no velho ditado de que “só nos lembramos de Santa
Bárbara quando faz trovoada…”. Esquecemos ou lembramos conforme as nossas
conveniências. É uma relação oportunista, de pouca honestidade intelectual e perigosa
porque significa que colocamos a nossa vida na dependência de «alguém», descurando
o trabalho e a procura de soluções, ao sabor de outras vontades ou de outros
humores.
Isto é o que acontece quando se vive «a vontade de Deus», acreditando que o que acontece no mundo é da
responsabilidade Dele. É uma concepção histórica, chamada
"Providencial": a crença de que Deus é o verdadeiro protagonista, o sujeito
da história e que os seres humanos são apenas ferramentas em suas mãos.
Para o Providencialismo, Deus é justo quando
nos sucedem coisas boas na vida. Se acontecem coisas más é porque Ele nos está
a sujeitar a "testes" para ver se somos verdadeiramente fiéis
aguentando as provações sem o renegar.
Para o Providencialismo, o tempo humano,
a história, não têm valor e as recompensas ou castigos reais só acontecerão
fora do tempo, na eternidade. Para o Providencial, "os caminhos de Deus
são imperscrutáveis" e o homem não pode entendê-los, nem questioná-los.
Muitos ditados populares e provérbios
expressam a cultura Providencialista religiosa, tradicional: - "O que é
teu ninguém o pode tirar"; "Deus proverá"; "Uma árvore que nasce torta nunca se
endireitará”...
Outros matizam com sentido idêntico esse
fatalismo: - "A quem madruga Deus ajuda”, ou o seu contrário: “Não é por
muito madrugar que amanhece mais cedo”.
Existem também ideias, nascidas das
filosofias orientais que fazem eco nas palavras de Jesus "A cada dia
basta-lhe o seu afã”.
Atribuída ao Dalai Lama há o seguinte ditado:
"Há apenas dois dias no ano em que não podes fazer nada. Um deles se chama
ontem e o outro amanhã. Então, hoje é o dia em que podes fazer alguma coisa, o
único em que podes viver".
Questionar este sentido Providencial da vida
é, para os católicos, uma exigência maior nestes tempos de dificuldades quando
o conformismo é mais perigoso. Ao estilo do Dalai Lama eu diria: “lembrar o dia
de ontem, pensar o dia de amanhã e começar a agir hoje.”
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