CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 187
Após fazer sua safra de
entradas, de empurrar um livro a Ari, com dedicatória, outro ao coronel Manuel
das Onças, Argileu sentou-se numa das mesas, com o Doutor, João Fulgêncio,
Ribeirinho e Ari, para provar a louvada «cana de Ilhéus».
E, chupitando sua
cachacinha, entre os recentes amigos, já um pouco despido do ar de grande
personalidade, o vate revelou-se excelente prosa, contando divertidas anedotas
com sua voz de trovoada, rindo alto, a interessar-se pelos assuntos locais,
como se ali vivesse há muito, não houvesse desembarcado naquela manhã.
Apenas a cada novo freguês
fazia-se apresentar, retirava da pasta entradas e livros. Finalmente, por
proposta de Nhô-Galo, inventaram uma espécie de código para facilitar-lhes o
trabalho. Quando a vítima tivesse capacidade para entradas e livro, seria o
Doutor quem faria as apresentações. Quando fosse para várias entradas mas sem
livro, Ari apresentaria.
Homem solteiro ou apertado
de dinheiro, uma entrada, só ele, Nhô-Galo, seria o introdutor. Ganhava-se
tempo. O poeta relutou um pouco em aceitar:
- Essas coisas enganam… Eu tenho experiência. “As
vezes um tipo que a gente nem pensa, leva um livrinho… Afinal o preço varia…
Descarava por completo
naquela roda alegre, à qual haviam-se juntado Josué, o Capitão e Tonico Bastos.
Nhô-Galo garantia:
- Aqui ,
meu caro, não pode haver engano. Nós conhecemos as possibilidades, os gostos, o
analfabetismo de cada um…
Um moleque entrou pelo bar
distribuindo prospectos de um circo cuja estreia se anunciava para o dia
seguinte. O poeta tremeu:
- Não, não posso admitir! Amanhã é dia da
minha conferência. Escolhi de propósito porque nos dois cinemas dão filmes de
mocinho,, gente grande pouco assiste. E de repente cai-me em cima esse circo…
Mas, doutor, as suas
entradas não são vendidas com antecedência? Pagas à vista? Não há perigo - acalmava Ribeirinho.
- E o senhor pensa que sou homem para falar a
cadeiras vazias? Dizer meus versos para meia dúzia? Caro senhor, tenho um nome
a zelar, um nome com certa ressonância e uma parcela de glória no Brasil e em
Portugal…
Não se preocupe… – informava
Nacib, de pé ao lado da mesa ilustre. Esse é um cirqui nho
vagabundo está vindo de Itabuna. Não vale nada. Não tem animais, artistas que
preste. Só mesmo menino é que vai…
O poeta estava convidado a almoçar
com Clóvis Costa. Sua primeira visita fora à redacção do Diário de Ilhéus logo
depois do desembarque. Queria saber se o doutor o podia acompanhar à tarde.
- Certamente, com o maior prazer. E agora vou
levar o ilustre amigo a casa de Clóvis.
- Venha almoçar connosco, meu caro.
- Não fui convidado…
(Cick na imagem de uma jovem que, se tivesse nascido uns anitos mais tarde poderia estar a bordo da estação orbital internacional...)
<< Home