AS MULHERES SÓ DEVIAM VESTIR DE BRANCO.... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 209
Em Itabuna foi um fim do
mundo. Poucas horas depois do atentado começaram a chegar a Ilhéus automóveis,
procedentes da cidade vizinha, a marinete da tarde veio superlotada e dois
caminhões desembarcaram jagunços. Parecia uma guerra a começar.
«A guerra do cacau».
Durará trinta anos – previu Nhô-Galo.
O coronel Aristóteles
Pires foi levado para casa de saúde, ainda em obras, do Dr. Demóstenes. Apenas
alguns quartos e a sala de cirurgia estavam funcionando. Em torno do ferido
reuniram-se as sumidades médicas locais.
Dr. Demóstenes, amigo
político do coronel Ramiro, não qui s
assumir a responsabilidade da operação. O estado de Aristóteles era grave, o
que não diriam se o homem morresse em suas mãos?
Foi o Dr. Lopes, médico de
grande fama, negro como a noite e belíssima pessoa, que operou com a
assistência de dois colegas. Quando chegaram os médicos de Itabuna, enviados às
pressas por parentes e amigos, a intervenção terminara, Dr. Lopes lavava as
mãos com álcool:
- Agora depende dele. Da sua resistência.
Os bares cheios, as ruas
cheias, um nervosismo geral.
A edição do Diário de
Ilhéus, com a entrevista sensacional de Aristóteles, fora arrancada, em poucos
minutos, aos moleques, o exemplar estava a ser vendido a dez tostões.
O negro que desfechara o
tiro ocultara-se nos bosques do morro do Unhão, não fora identificado. Uma das
testemunhas da ocorrência, pedreiro numa obra, afirmara já o ter visto, mais de
uma vez, em companhia de Loirinho, nas ruas de canto e no Bate-Fundo, cabaré de
última ordem.
O outro popular, que
correra em perseguição ao assassino que quase recebera um tiro, nunca o tinha
visto antes, mas descreveu a sua roupa: calça porta de loja, camisa de
bulgariana xadrez. Quanto aos mandantes, ninguém punha dúvidas: murmuravam-se
nomes em voz baixa.
Mundinho mantivera-se no
hospital enquanto a operação durou. Despachara o seu automóvel a buscar a
esposa de Aristóteles em
Itabuna. Enviou depois uma série de telegramas para a Baía e
para o Rio. Alguns jagunços de Altino Brandão e Ribeirinho, na cidade desde a
chegada dos rebocadores, batiam o morro, com ordens de trazer o negro morto ou
vivo.
A polícia local aparecera,
ouvira Mundinho, o delegado mandara dois soldados dar uma busca nos arredores.
O Capitão, também no hospital, acusara aos gritos os coronéis Ramiro, Amâncio e
Melk de mandantes.
O delegado recusou-se a
tomar suas declarações, ele não era testemunha. Mas perguntou a Mundinho se
fazia suas aquelas acusações do Capitão:
- Que adianta? – disse o exportador. – Não sou
menino, sei que o senhor tenente (o delegado era um tenente da Polícia Militar)
não vai tomar providência. O importante é prender o jagunço. Ele nos dirá quem
o armou. E isso nós mesmos vamos fazemos.
- O senhor está-me insultando.
- Insultar o senhor? Para quê? Ao senhor vou é
mandar embora de Ilhéus. Pode ir preparando a bagagem – Falava agora quase no
mesmo tom de um coronel dos outros tempos.
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