quinta-feira, outubro 04, 2012

AS MULHERES SÓ DEVIAM VESTIR DE BRANCO....

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 209


Em Itabuna foi um fim do mundo. Poucas horas depois do atentado começaram a chegar a Ilhéus automóveis, procedentes da cidade vizinha, a marinete da tarde veio superlotada e dois caminhões desembarcaram jagunços. Parecia uma guerra a começar.

«A guerra do cacau». Durará trinta anos – previu Nhô-Galo.

O coronel Aristóteles Pires foi levado para casa de saúde, ainda em obras, do Dr. Demóstenes. Apenas alguns quartos e a sala de cirurgia estavam funcionando. Em torno do ferido reuniram-se as sumidades médicas locais.

Dr. Demóstenes, amigo político do coronel Ramiro, não quis assumir a responsabilidade da operação. O estado de Aristóteles era grave, o que não diriam se o homem morresse em suas mãos?

Foi o Dr. Lopes, médico de grande fama, negro como a noite e belíssima pessoa, que operou com a assistência de dois colegas. Quando chegaram os médicos de Itabuna, enviados às pressas por parentes e amigos, a intervenção terminara, Dr. Lopes lavava as mãos com álcool:

 - Agora depende dele. Da sua resistência.

Os bares cheios, as ruas cheias, um nervosismo geral.

A edição do Diário de Ilhéus, com a entrevista sensacional de Aristóteles, fora arrancada, em poucos minutos, aos moleques, o exemplar estava a ser vendido a dez tostões.

O negro que desfechara o tiro ocultara-se nos bosques do morro do Unhão, não fora identificado. Uma das testemunhas da ocorrência, pedreiro numa obra, afirmara já o ter visto, mais de uma vez, em companhia de Loirinho, nas ruas de canto e no Bate-Fundo, cabaré de última ordem.

O outro popular, que correra em perseguição ao assassino que quase recebera um tiro, nunca o tinha visto antes, mas descreveu a sua roupa: calça porta de loja, camisa de bulgariana xadrez. Quanto aos mandantes, ninguém punha dúvidas: murmuravam-se nomes em voz baixa.

Mundinho mantivera-se no hospital enquanto a operação durou. Despachara o seu automóvel a buscar a esposa de Aristóteles em Itabuna. Enviou depois uma série de telegramas para a Baía e para o Rio. Alguns jagunços de Altino Brandão e Ribeirinho, na cidade desde a chegada dos rebocadores, batiam o morro, com ordens de trazer o negro morto ou vivo.

A polícia local aparecera, ouvira Mundinho, o delegado mandara dois soldados dar uma busca nos arredores. O Capitão, também no hospital, acusara aos gritos os coronéis Ramiro, Amâncio e Melk de mandantes.

O delegado recusou-se a tomar suas declarações, ele não era testemunha. Mas perguntou a Mundinho se fazia suas aquelas acusações do Capitão:

 - Que adianta? – disse o exportador. – Não sou menino, sei que o senhor tenente (o delegado era um tenente da Polícia Militar) não vai tomar providência. O importante é prender o jagunço. Ele nos dirá quem o armou. E isso nós mesmos vamos fazemos.

 - O senhor está-me insultando.

 - Insultar o senhor? Para quê? Ao senhor vou é mandar embora de Ilhéus. Pode ir preparando a bagagem – Falava agora quase no mesmo tom de um coronel dos outros tempos.

Site Meter