O elemento àgua continua a ser dos preferidos... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 207
Mundinho ia falar, o coronel riu e continuou:
- O coronel Ramiro é homem direito lá à
maneira dele. Foi ele quem me fez subdelegado aqui ,
vai para mais de vinte anos. Diz a todo o mundo que devo o que sou a ele. Quer
saber a verdade? Ele só pôde derrubar os Badarós porque eu fiquei com ele.
Outra coisa que dizem é
que larguei os Badarós porque estavam perdidos. Larguei quando estavam de cima,
ganhando. Eles estavam perdidos, é verdade, mas porque não serviam mais para
governar. Política para eles era só acumular terra. Naquele tempo o coronel
Ramiro estava para eles como o senhor estava para o coronel.
- O senhor quer dizer…
- Espere um pouco, não tardo a acabar. O
coronel concordou com a separação de Itabuna. Senão tivesse concordado ia
demorar, o Governo ia ficar marombando. Por isso tenho apoiado ele. Mas ele
pensa que é porque eu tenho obrigação.
Quando o senhor começou a
mexer com as coisas de Ilhéus, comecei a assuntar. Ontem, quando o senhor
chegou aqui , eu disse para mim
mesmo: vai ser procurado por essa corja de vagabundos. Vamos ver o que ele vai
fazer, é a prova dos nove. – Riu seu riso fácil. – Seu Mundinho Falcão, se o
senhor quer meus votos, eles são seus. Não lhe peço nada, não é transacção. Só
uma coisa: olhe também por Itabuna, a zona do cacau é uma só. Olhe para esse
interior abandonado.
Mundinho estava tão
surpreso que só pôde dizer:
- Juntos, coronel, vamos fazer grandes coisas.
- E agora, guarde a notícia só prò senhor.
Quando as eleições estiverem mais perto, eu mesmo me encarrego de anunciar. Não
lhe foi possível, no entanto, esperar quanto lhe mandava a sabedoria e a
prudência. Porque, dias depois, o coronel Ramiro o chamava a Ilhéus para
comunicar-lhe a chapa governista. Aristóteles conversou com seus amigos mais
influentes, tomou a marinete para Ilhéus.
Para ele, coronel Ramiro,
não mandava abrir a sala das cadeiras de alto espaldar. Entregou-lhe um papel
com os nomes:
«Para deputado federal:
Dr. Vítor Melo». Seguia – se a lista,
Aristóteles leu devagar, como se soletrasse. Restituiu a folha:
- Nesse Dr. Vítor, coronel não voto mais. Nem
que o mundo venha abaixo. Não presta para nada. Tanta coisa pedi, nada fez.
Ramiro falou com voz
autoritária, como quem repreende um menino desobediente:
- Porque você não se dirigiu a mim para os
pedidos? Se pedisse por meu intermédio ele não ia negar. A culpa é sua. Quanto
a votar nele, é o candidato do Governo, vamos elegê-lo. É compromisso do
Governador.
- Compromisso dele, meu não.
- Que quer você dizer?
- Já lhe disse, coronel. Nesse sujeito não
voto.
- E em quem vai votar?
Aristóteles percorreu a
sala com os olhos, pousando-os finalmente em Ramiro:
- Em Mundinho Falcão.
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