quarta-feira, outubro 31, 2012


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 82 SOB O TEMA:
“O PROJECTO DE JESUS”



RAQUEL -  Continuamos analisando a situação política nos tempos de Jesus Cristo com o próprio Jesus Cristo. Não são poucos os ouvintes que ligaram para Emissoras Latinas muito preocupados, até escandalizados.

JESUS – Escandalizados, desta vez, porquê, Raquel?

RAQUEL - Porque, nas últimas entrevistas o senhor estava falando de política. E segundo eles, o senhor deveria concentrar-se nas coisas de Deus, especialmente nestes dias da Semana Santa.

JESUS -  E quais são as coisas de Deus?

RAQUEL -  Bom, imagino que se referiam às orações, aos sacramentos, ao culto… em uma palavra, às coisas sagradas.

JESUS - Eu creio que a vida é o mais sagrado, Raquel. Deus não pode fingir que não vê seus filhos famintos. Eu também não podia ficar tranquilo vendo os abusos que se cometiam em meu país.

RAQUEL - Isso é meter-se em política. E por se meter, deve ter ganho muitos inimigos.

JESUS - Muitos. Os grandes odiavam-me. Os debaixo, os humilhados, as mulheres, entendiam.

RAQUEL -  Entendiam o quê?

JESUS - Que o Reino de Deus tinha chegado. Por isso, a cada dia mais se juntavam a nosso movimento.

RAQUEL -  Voltemos aos inimigos. Um homem de paz como o senhor com tantos inimigos?

JESUS - Raquel, quem luta pela justiça sempre terá inimigos. Quem não tem é porque não faz nada.
+º-
RAQUEL - Mas o senhor disse: amem seus inimigos.

JESUS -  Sim, eu disse que os amássemos, não que não os tivéssemos.

RAQUEL -  Essa famosa frase sua de amar aos inimigos é autêntica ou a suavizaram também?

JESUS - Não, eu a disse. E não é nenhuma palavra suave.

RAQUEL -  O que quis dizer com ela?

JESUS - Amar aos inimigos é não cair na armadilha do ódio, não imitar sua violência. Quem luta contra Leviatã pode acabar parecendo-se com esse monstro.

RAQUEL -  O senhor recomendou inclusive dar a outra face. Debilidade, covardia?

JESUS - Astúcia. Tem que ser um pouco pomba e um pouco serpente. Há tempo para tudo, para atirar pedras e para recolhê-las. Aos mercadores do Templo eu não dei nenhuma face. Os tirei a chicotadas.

RAQUEL - Insisto. Como é que o senhor, numa situação tão crítica como a que vivia o seu país, e com as ideias que tinha, não terminou optando pela via armada?

JESUS - Os zelotas tentaram convencer-me. Queriam apressar a chegada do Reino com as armas. Mas a violência gera violência. Cada revolta dos zelotas terminava num novo banho de sangue.

RAQUEL -  A história deu razão ao senhor. Isso foi o que aconteceu pouco depois de sua morte, no ano 70, quando os zelotas se insurgiram e o imperador Tito arrasou Jerusalém.

JESUS - Eu pensava que o Reino de Deus tinha que ir por outro caminho. Como lhe disse, Raquel, o primeiro era abrir os olhos das pessoas. No nosso movimento quisemos reunir os pobres, sentir-nos fortes, sentir que podíamos.

RAQUEL -  Organizar-se? Organização popular?

JESUS -  Sim, isso, a comunidade. Crescer desde baixo, como as árvores. Um povo sem amos nem senhores. Um mundo novo. Outro mundo.

RAQUEL -  Tinha em mente um projecto a um prazo mais longo?

JESUS -  Eu tinha pressa. Eu queria o Reino de Deus já. E ele não chegou.

RAQUEL - Muitos morreram, igual ao senhor, lutando por algo que nunca chegou. Considera-se um fracassado?

JESUS -  Não. Os que caíram lutando pela justiça, Deus os levantará dentre os mortos. No Livro da Vida estão escritos todos os seus nomes. O meu também.

RAQUEL - De Jerusalém e para Emissoras Latinas, transmitiu Raquel Pérez.

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