sábado, outubro 13, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 217


Nacib passava, parava nas mesas. Na Praça Rui Barbosa, quebrou caminho, cortou para a Praça Seabra. Havia gente na rua, alguns a olhavam curiosos, dois outros a cumprimentaram. Conhecidos de Nacib, fregueses do bar. Mas estavam tão empolgados com o acontecimento da tarde que não ligaram.

Atingiu os trilhos da estrada, chegava às casas pobres das ruas do canto. Mulheres damas, de última classe, passavam por ela e a estranhavam. Uma a puxou pelo braço:

 - Tu é nova por aqui, nunca te vi… Donde tu veio?

 - Do sertão – respondeu automaticamente. – Onde é que fica a Rua do Sapo?

 - Mais adiante. Tu vai para lá? Pra casa da Mé?

 - Não. Pró Bate-Fundo.

 - Tu vai lá? Tu tem coragem. Lá eu não vou. Hoje ainda menos, tá um fuzué dos diabos. Tu quebra à direita e chega lá.

 -Quebrou à direita na esquina. Um negro a segurou:

 - Onde vai, dengosa? – Olhou-a no rosto, achou-a bonita, beliscou-lhe a face com os dedos fortes. – Onde tu mora?

 - Longe daqui.

 - Não faz mal. Vamos, dengosa, fazer um neném.

 - Agora não posso. Tou apressada.

 - Tá com medo que te passe o calote? Olha aqui. Metia a mão no bolso, tirava algumas notas miúdas.

 - Tou com medo não. Tou com pressa.

 - Com mais pressa tou eu. Saí mesmo para isso.

 - E eu para outra coisa. Me deixa ir embora. Volto mais logo..

 - Tu volta mesmo?

 - Juro que volto.

 - Vou te esperar.

- Aqui mesmo, pode esperar.

Saiu apressando o passo. Já perto do Bate-Fundo – donde vinha barulhenta música de pandeiros e violão – um bêbado atracou-se a ela, queria abraçá-la. Empurrou-lhe o cotovelo, ele perdeu o equilíbrio, agarrou-se a um poste. Da porta do Bate-Fundo, na rua pouco iluminada saía um rumo de conversas, de gargalhadas e gritos. Ela entrou. Uma voz chamou, ao vê-la:

 - Pra cá, morena, beber uma pinga.

Um velho tocava violão, um rapazola batia pandeiro. Mulheres envelhecidas, demasiadamente pintadas, algumas bêbadas. Outras eram cabrochas de extrema juventude. Uma delas, de cabelos escorridos e face magra, não devia ainda ter quinze anos completos.

Um homem insistia para que Gabriela viesse sentar-se a seu lado. As mulheres, as velhas e as mocinhas, olhavam-na com desconfiança. Donde vinha aquela concorrente, bonita e excitante? Outro homem também a chamava. O dono do bar, um mulato perneta, andava para ela, a perna de pau fazendo um ruído seco ao pisar.

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