Já não restam duvidas: a vida veio da água. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 213
Andou por entre as mesas,
trocou palavras com uns e outros, todos sentiam estar o coronel a desafiar a
desafiar uma acusação. Ninguém se atreveu sequer a tocar no assunto. Amâncio
cumprimentou outra vez, subiu a Rua Coronel Adami em direcção à casa de Ramiro.
Os homens no morro haviam
já varejado todas as bibocas, procurando na gruta, batido os bosques. Por mais
de uma vez estiveram a poucos passos do negro Fagundes.
Subira o morro empunhando
ainda o revólver. Desde que Aristóteles saltara da canoa, ele esperava o bom
momento para atirar. Com o descampado do Unhão quase deserto àquela hora,
decidiu-se, alvejou o coração. Viu o coronel caindo, o mesmo lhe fora mostrado
por Loirinho no porto, abalou.
Um tipo o perseguiu, ele o
pôs a fugir com um tiro. Meteu-se entre as árvores, a esperar a chegada da
noite. Mascava um pedaço de fumo. Ia ganhar um dinheiro grande. Finalmente os
barulhos estavam começando. Clemente sabia de pedaços de terra para vender, não
tirava a cabeça daqui lo, imaginavam
botar uma rocinha juntos.
Se os barulhos
esquentassem, um homem como ele, Fagundes, de coragem e pontaria, com pouco
tempo se arranjava na vida. Loirinho tinha-lhe dito que o encontrasse no
Bate-Fundo, no começo da noite, antes do movimento iniciar-se. Lá pelas oito
horas. Fagundes estava calmo. Descansou um pouco, começou a andar para o alto,
com ideias de descer pelo outro lado apenas a noite caísse, entrar pela praia,
ir ao encontro de Loirinho.
Passou tranqui lo ante várias casinholas, chegou a dar boa-noite
a uma rendeira. Meteu-se no mato, procurou um lugar abrigado, deitou-se a
pensar, esperando o escurecer. Dali enxergava a praia. O crepúsculo
prolongava-se, Fagundes podia ver, levantando um pouco a cabeça, o sol abrindo um
leque vermelho cor de sangue no extremo do mar.
Pensava no desejado pedaço
de terra. Em Clemente, coitado, ainda a falar em Gabriela, não a podia
esquecer. Nem sabia que ela tinha casado, agora era uma dona rica, na cidade
lhe contaram. Lentamente as sombras cresceram. Um silêncio no morro.
Quando se encaminhou para
a descida, enxergou os homens. Quase se encontra com eles. Recuou para os
bosques. Dali observou-os entrarem nas casas. Seu número crescia. Dividiam-se em grupos. Um mundo de
gente armada. Ouviu pedaços de conversas. Queriam pegá-lo vivo ou morto,
levá-lo para Itabuna. Coçou a carapinha.
Era assim importante o
cujo a quem atirara? A essa hora estaria estendido, no meio das flores,
Fagundes estava vivo, não queria morrer, ia ser dele e de Clemente. Os barulhos
estavam apenas começando, muito dinheiro a ganhar. Os homens, em grupos de
quatro e cinco, andavam para os bosques.
O negro Fagundes entrou
para o mato onde era mais denso. Os espinhos rasgavam-lhe as calças e a camisa.
O revólver na mão. Ficou uns minutos acocorado entre os arbustos. Não tardou a
ouvir vozes:
- Alguém passou por aqui .
O mato está pisado. Esperava ansioso. As vozes se afastaram, ele prosseguiu
pelo mato cerrado. Sua perna sangrava, um talho grande, espinho mais brabo. Um
animal fugiu ao vê-lo; assim descobriu um buraco profundo, tapado pelos
arbustos. Ali se meteu. Era tempo. As vozes novamente próximas:
- Aqui
teve gente. Veja…
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