segunda-feira, outubro 08, 2012

Está provado. A vida sempre veio do mar...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 212


 - Mandaram matar o Intendente de Itabuna, coronel Aristóteles. Mas só o feriram. Está morre não morre no hospital. Tão dizendo que foi gente do coronel Ramiro Bastos, dele, dele, de Amâncio ou de Melk, o que é a mesma coisa. O cabra se escondeu no morro. Mas não vai escapar, tem mais de trinta homens dando caça. E se pegarem…

 - O que é que vai ter? Levam preso? – quis saber Gabriela.

 - Preso? Pelo que estão falando, vão é levar a cabeça dele para Itabuna. Até já correram com o delegado.

O que era verdade. O delegado, com um praça, aparecera no Unhão vindo pelo lado do porto, onde o negro atirara. Homens armados guardavam as subidas. O delegado quis subir, não deixaram.

 - Aqui ninguém passa.

Estava fardado, as divisas de tenente. Quem lhe proibia a passagem era um jovem, de ar petulante e revólver em punho.

 - Quem é o senhor?

 - Sou o secretário da Intendência de Itabuna. Américo Matos, se quer saber meu nome.

 - E eu sou o delegado de Ilhéus. Vou prender o criminoso.

Em torno do rapaz cinco jagunços com repetições:

 - Prender? Não me faça rir. Se o senhor quer prender alguém, não precisa subir o morro. Prenda o coronel Ramiro, esse canalha que se chama Amâncio Leal, Melk Tavares ou o tal Loirinho. Não precisa de subir, tem muito que fazer na cidade.

Fez um gesto, os jagunços levantaram as armas. O rapaz disse:

 - Seu delegado, vá embora se não quiser morrer.

O tenente relanceou o olhar, o praça havia desaparecido.

 - Você terá notícias minhas. – Deu meia volta.

Todas as subidas estavam guardadas, eram três, duas do lado do porto, uma do lado do mar, onde ficava a casa de Nacib. Mais de trinta homens armados, jagunços de Itabuna e de Ilhéus, batiam o morro, varando os bosques, rolos de árvores, densos de mato, entrando nas casas pobres, vasculhando-as de alto a baixo.

Na cidade, a boataria atingia o máximo. No Vesúvio, de quando em quando, surgia alguém a contar mais uma novidade: a polícia estava garantindo a casa do coronel Ramiro, onde se encontrava ele, seus filhos, seus amigos mais devotados, inclusive Amâncio e Melk, entrincheirados.

Notícia inventada. O próprio Amâncio passou no bar minutos depois e Melk estava na roça. Duas vezes circulou a notícia da morte de Aristóteles. Contavam ter Mundinho mandado pedir reforços de homens ao coronel Altino Brandão e ter despachado um próprio de carro, em busca de Ribeirinho.

Boatos cada qual mais absurdo, existindo durante uns minutos, aumentando a excitação, substituídos por outros, logo depois.

A entrada de Amâncio causou certa sensação. Ele disse: «Boa noite, senhores» como o fazia habitualmente, com sua voz macia, andou para o balcão, pediu um conhaque, perguntou se não havia parceiros para um pocker. Não havia.

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