quarta-feira, novembro 28, 2012

Agora percebo porque gosto tanto de cerejas...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 150


Ela não compreendia. Se seu Nacib tivesse vontade, bem que podia ir com outra deitar, nos seus braços dormir. Ela sabia que Tonico dormia com outras. Dona Arminda contava que ele tinha um horror de mulheres. Mas, se era bom deitar-se com ele, brincar com ele na cama, porque exigir que fosse só ela? Entendia não.

Gostava de dormir nos braços de um homem. Não de qualquer. De moço bonito como Clemente, como Tonico, como seu Nilo, como Betinho, ah!, como Nacib. Se o moço também queria, se a olhava pedindo, se sorria para ela, se a beliscava, porque recusar, porque dizer não? Se estavam querendo tanto um como o outro? Não via porquê. Era bom dormir nos braços de um homem, sentir o estremecimento do corpo, a boca a morder, num suspiro morrer.

Que seu Nacib se zangasse, ficasse com raiva, sendo casado, isso entendia. Havia uma lei, não era permitido. Só o homem tinha direito, não o tinha a mulher. Ela sabia, mas como resistir? Tinha vontade, na hora fazia, nem se lembrava que não era permitido.

Tomava cuidado para não ofendê-lo, para não magoá-lo. Mas nunca pensara que ia tanto ofender, tanto magoar. Daí a uns dias, o casamento acabado, acabado para a frente, acabado para trás, porquê seu Nacib continuaria com raiva?

De algumas coisas ela gostava, gostava demais: do sol da manhã antes de muito esquentar. Da água fria, da praia branca, da areia e do mar. De circo, de parque de diversões. De cinema também. De goiaba e pitanga. Das flores, dos bichos, de cozinhar, de comer, de andar pela rua, de rir e de conversar. Com senhoras cheias de si gostava não.

Mais que tudo gostava de moço bonito, nos seus braços dormir, gemer, suspirar. Dessas coisas gostava. E de seu Nacib. Dele gostava de um gostar diferente. Na cama para gemer, beijar, morder, suspirar, morrer e renascer. Mas também para dormir de verdade, sonhando com o sol, com o gato bravio, com a areia da praia, a lua do céu e a comida a fazer. Sentindo em suas ancas o peso da perna de seu Nacib.

Dele gostava de mais, muito de mais, sentia sua falta, atrás da porta se escondia para espiá-lo chegar. Muito tarde chegava, por vezes bêbado. Tanto gostaria de tê-lo outra vez, no seu peito deitar a cabeça formosa, de ouvi-lo dizer-lhe coisas de amor numa língua estrangeira, de ouvir sua voz murmurando.: «Bié!»

Só porque a encontrara na cama a sorrir para Tonico. Que importância tão grande, porque tanto sofrer, se ela deitava com um moço? Não tirava pedaço, não ficava diferente, gostava dele da mesma maneira, e não podia ser mais. A!, não podia ser mais. Duvidava existisse no mundo mulher a gostar tanto de um homem, para com ele dormir ou para com ele viver, fosse irmã, fosse filha, fosse mãe, amigada ou casada, como ela gostava de seu Nacib.

Tanta coisa, esse barulho todo, só porque a encontrara com outro? Nem por isso gostava menos. Menos o queria, menos sofria porque ele não estava.

D.ª Arminda jurava que seu Nacib jamais voltaria, jamais a seus braços. Queria, pelo menos, cozinhar para ele. Onde ele iria comer? E o bar, quem prepararia salgados e doces? E o restaurante que estava pra se abrir? Queria, pelo menos, cozinhar para ele.

E queria, como queria!, vê-lo sorrir  com seu rosto tão bom, sua cara bonita. Sorrir junto dela, tomá-la nos braços, dizer-lhe Bié, enfiar os bigodes no cangote cheiroso. Não havia no mundo mulher que tanto gostasse de um homem, que com tanto amor suspirasse por seu amado como suspira, morta de amor, Gabriela por seu Nacib.

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