De preto nunca me comprometo... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 133
- Pois eu acho, compadre, que o negro morria e
não falava. É um negro correcto, pena ter falhado o tiro.
Aristóteles, curado e
influente, declarava que Itabuna votaria unânime em Mundinho Falcão.
Engordara ao sair do hospital, fora à Baía, dera entrevistas
aos jornais, o Governador não pôde impedir que o Tribunal interviesse no caso.
Mundinho mexera com muita gente no Rio, onde o atentado repercutira.
Um deputado da oposição
fizera discurso na Câmara Federal, falando da volta dos tempos do banditismo na
zona do cacau. Processo difícil. Criminoso ignorado. Dizia-se ter sido um cabra
de nome Fagundes que cumpria empreitada com um tal Clemente, nas fazendas de
Melk Tavares, derrubando mata.
Mas, como provar? Como provar
a participação de Ramiro, de Amâncio, de Melk? O processo terminaria arqui vado, com promotor especial e tudo.
- Sujeitos velhacos… - dizia Ramiro
referindo-se aos desembargadores.
Não haviam querido demitir o
delegado? Fora preciso mandar Alfredo à Baía, exigir a permanência. Não que o
delegado prestasse, um molenga, um moleirão, borrando-se de medo dos jagunços,
correndo até do secretário da Intendência de Itabuna, um meninote. Mas se
mudassem o tenente, quem ficaria desprestigiado seria ele, Ramiro Bastos.
Conversava com Amâncio, com
Tonico, com Melk. Era sua hora de animação, de verdadeiro viver. Porque agora
passava parte do dia deitado na cama, só tinha osso e pele e os olhos cuja luz
revivia ao falar de política.
Dr. Demóstenes também o visitava
todos os dias. De quando em vez auscultava-lhe o coração, tomava-lhe o pulso.
No entanto, apesar de
proibido pelo médico, saíra à noite, uma vez. Para ir à inauguração do presépio
das irmãs Dos Reis. Não podia faltar. E quem, na cidade deixava de comparecer?
A casa cheia, entupida.
Gabriela ajudara Quinqui na e Florzinha nos trabalhos finais. Recortara
figuras, colara em papelão, fizera flores. Na casa do tio de Nacib encontrou
uma revista da Síria, e foi assim que apareceram no democrático presépio alguns
maometanos, paxás e sultões orientais.
Para gáudio de João
Fulgêncio, de Nhô-Galo e do sapateiro Felipe. Joaqui m
construíra hidroaviões em cartolina, estavam pendurados sobre a estrebaria, era
a novidade daquele ano. Para preservar a sua neutralidade (o presépio, o bar de
Nacib e a Associação Comercial eram as únicas coisas que continuavam neutras
ante as candidaturas eleitorais).
Quinqui na
rogou ao Doutor que falasse, Florzinha solicitou discurso ao Dr. Maurício.
Um e outro cobriram de
frases bonitas as cabeças prateadas das solteironas. O Capitão segredou-lhes,
pedindo seus votos, a promessa de auxílio oficial, se fosse eleito. Para ver o
grandioso presépio vinha gente de longe. De Itabuna, de Pirangi, de Água Preta,
até de Itapira. Famílias inteiras. De Itapira vieram Dª Vera e Dº Ângela:
batiam palmas extasiadas:
- Que maravilha!
Mas não foram apenas a fama
do presépio tradicional que chegara à cidade distante. Chegara também a fama da
cozinha de Gabriela.
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