sábado, novembro 24, 2012


GABRIELA
CRAVO
Conversa de comadres em Ilhéus
E
CANELA

Episódio Nº 147

Nacib estava casado há uns cinco meses sem reclamar. E como iria ele, Tonico, confessar de público ter falsificado papéis? Não se estava mais tempo no velho Segismundo, que vendia certidões de nascimento e escrituras de terras. Ezequiel suspendeu os ombros, exclamou para João Fulgêncio:

 - Não lhe disse?

 - Tonico, isso pode-se arranjar – falou João Fulgêncio – Vamos conversar com o Juiz. Encontra-se um caminho para contornar a situação, para que a falsificação de papéis não venha a público. Ou pelo menos para você não aparecer como culpado.

Pode-se dizer que você agiu de boa fé, que foi enganado por Gabriela. Inventa-se uma história qualquer. Afinal, isso que se chama de civilização ilheense foi construída à base de documentos falsos.

Mas Tonico ainda resistia. Não desejava seu nome misturado naquilo.

 - Misturado você está, meu caro – disse Ezequiel – enterrado de cabeça. De duas, uma: ou você concorda, vai connosco ao juiz para arranjarmos tudo amigável e rapidamente, ou hoje mesmo inicio o processo, em nome de Nacib. De anulação de casamento. Por erro essencial de pessoa devido a documentos forjados por você. Forjados para casar sua amante, de quem continuou a gozar dos favores depois, com um homem bom e ingénuo de quem você se dizia amigo.

Você entra no caso por duas portas: a da falsificação e a do adultério. E em ambas com premeditação. É um caso bonito.

Tonico quase perdia a fala:

 - Ezequiel, por favor, quer me desgraçar?

João Fulgêncio completava.

 - Que dirá D. Olga? E seu pai, o coronel Ramiro?

Você já pensou? Ele não resistirá ao escândalo, morrerá de vergonha e você será o culpado. Estou lhe avisando porque não quero que aconteça.

 - Porque me meti nisso, meu Deus? Só arranjei os papéis para ajudar. Ainda não tinha nada com ela…

 - Venha connosco ao juiz, é melhor para todo o mundo. Senão, quero lhe avisar lealmente, a história sai todinha amanhã no Diário de ilhéus. Escrita por mim para você não aparecer como galã. Por mim João Fulgêncio…

 - Mas, João sempre fomos amigos…

 - Eu sei. Mas você abusou de Nacib. Se fosse com a mulher de outro não me importava. Sou amigo dele e também de Gabriela. Você abusou dos dois. Ou você concorda ou vou-lhe cobrir de vergonha, botá-lo no ridículo. Com a situação política como está, você nem poderá continuar em Ilhéus.

Toda a empáfia de Tonico vinha abaixo. O escândalo o horrorizava. Medo de Dª Olga saber, de o pai tomar conhecimento. O melhor era mesmo engolir a pílula, ir ao Juiz, contar a falsificação dos papéis.

Faço o que quiserem. Mas, por amor de Deus, vamos arranjar essa história dos papéis da melhor maneira possível. Afinal, somos amigos.

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